quarta-feira, 22 de junho de 2016

Aula 14 - Ética, Uso de computador e Qualidade na pesquisa qualitativa

           A última aula da disciplina começou com um debate sobre a Ética na pesquisa qualitativa, o uso de ferramentas computacionais e uma visão geral sobre a importância da qualidade na pesquisa. Para isso, usamos os capítulos 4; 26; 28; e 29; novamente a turma foi dividida em grupos e meu grupo com a apresentação da Qualidade na Pesquisa Qualitativa (cap. 29).
         
ÉTICA NA PESQUISA

          Falar de Ética em pesquisa qualitativa sempre proporciona boas discussões pois há uma relação muito próxima entre sujeito e objeto, logo, é muito tênue a linha que separa o "invasivo" do "envolvimento". Uma vez respeitando esse limite,o que fazer com os dados? Como publicar? Como proteger a privacidade das pessoas?
          Os cuidados com a ética na pesquisa adveio após escândalos como os "praticados a prisioneiros em pesquisas e experimentos realizados por médicos, durante o período nazista na Alemanha, são exemplos horripilantes que levaram à elaboração de códigos de ética para a pesquisa." (FLICK, 2009). Para compreender melhor esses casos, busquei um vídeo sobre o tema:

Auschwitz - Experimentos Médicos - Legendado



         Os abusos éticos que podem ser observados nesse vídeo horrível trouxe para a pesquisa a preocupação ética e daí a formulação de códigos de ética em diversas áreas. No Brasil, a ética na pesquisa está vinculada às pesquisas em Saúde, através do Conselho Nacional de Saúde com a CONEP - Comissão Nacional de Ética nas Pesquisas. Entretanto, recentemente esse Conselho aprovou o Comitê de Ética em Pesquisa nas Ciências Humanas. Logo, as pesquisas em ciências humanas e sociais deverão ter o cuidado com os termos de ética, e isso deve se estender para os programas de pesquisa e pós graduação, bem como aos periódicos.
               Os cuidados com a ética na ciência perpassam primeiramente com questões de plágio, cópia total ou parcial de outras pesquisas sem citar a fonte configura apropriação de conhecimento alheio. Inclusive já houve casos judiciais em torno disso, como nesse caso: UFMG cassa diploma de doutorado de professora por plágio

            Além disso, a ética também diz respeito à confidencialidade dos dados coletados; ao consentimento dos informantes em conceder uma entrevista, por exemplo; à proteção e dignidade dos participantes; e à confidencialidade na redação da pesquisa. Tudo isso proporciona à pesquisa qualitativa maior qualidade na generalização uma vez que todos esses cuidados contribui para uma maior credibilidade dos dados.
                 Um debate que ocorreu na sala sobre esse tema foi a respeito dos métodos de observação versus o consentimento dos observados. A questão foi: O fato de os observados saberem que estão sendo observados não causaria um viés nos dados? Ou seja, sabendo que estão sendo "objetos" de uma investigação científica, eles não mudariam o comportamento?
               Após a apresentação das diversas opiniões, concluo que (retornando os ensinos sobre a técnica de observação), em se tratando de uma observação em situação natural e pública não há necessidade de se obter termo de consentimento dos observados, pois isso invalidaria a pesquisa. Mas numa situação especial, em ambiente preparado para tal observação, todos os observados devem consentir assinando termo específico.

O USO DOS COMPUTADORES
                    
                  É mais do que óbvia a popularização do uso de tecnologia (não somente o computador) nas atividades cotidianas de todas as pessoas, e especificamente, no trabalho científico não poderia ser diferente. E em se tratando de pesquisa qualitativa algumas recomendações são triviais e outras especiais, como a indicação de software específicos.
                 A obra de Flick (2009) ainda está um pouco desatualizada diante os avanços da tecnologia, mas ele aponta algumas formas de como a tecnologia pode ser empregada: anotações no campo; transcrição; edição de dados; codificações; armazenagem; busca de dados no texto; redação geral; mapeamento geral; associação de termos; e outras. A seguir alguns software que podem ajudar na pesquisa qualitativa:


                O uso do computador e das demais tecnologias são de grande valia para o desenvolvimento da pesquisa qualitativa, mas não podemos esquecer das recomendações metodológicas que são primícias de uma pesquisa com qualidade. Os software estão ali para auxiliar a pesquisa, cabe ao pesquisador atento saber manipulá-lo para alcançar os objetivos e responder ao problema de pesquisa.

QUALIDADE NA PESQUISA QUALITATIVA

                Quais os critérios para se avaliar uma pesquisa qualitativa? Eles devem ser os mesmos para a pesquisa quantitativa? Há uma crítica ao que se chama de "plausibilidade seletiva" que é o uso somente de recortes textuais que validem a tese de pesquisa. Isso na pesquisa qualitativa é muito comum, mas como garantir que essa seleção de trechos não comprometem a qualidade da pesquisa?
                 A primeira recomendação é quanto ao uso adequado dos métodos de pesquisa, pois um cuidado nessa etapa contribui para a confiabilidade dos dados e compreensão por parte de quem vai ler sua pesquisa. Na sequência uma busca pela validação dos dados com base na fidedignidade das respostas e triangulação dos métodos.
                  Por fim, a decisão de se escolher pela pesquisa qualitativa requer uma reflexão do pesquisador que extrapole o senso comum de ser mais "fácil" ou mais "difícil", que ultrapasse preocupações instrumentais ou de conveniência, como proximidade com o fenômeno observado... Essa decisão envolve critérios definidos por Flick (2009):

             

          E após essas reflexões, triangulação de métodos, comparação de casos, e conclusões finais, o pesquisador é designado a realizar uma avaliação como uma espécie de auditoria de conformidade. Para no final, pode apresentar suas generalização com confiabilidade, credibilidade e validade. Não queremos com isso demonstrar que a pesquisa qualitativa é mais difícil ou complexa que a pesquisa quantitativa, mas é uma outra forma de se chegar à proximidade do fenômeno, e por ser científica, deve seguir passos criteriosos e rigorosos tanto quanto a pesquisa quantitativa.


*FLICK, Uwe. Introdução à pesquisa qualitativa. 3ª ed. Tradução Joice Elias Costa. Porto Alegre: Artmed, 2009 [Capítulos 4, 26, 28 e 29].





             

terça-feira, 21 de junho de 2016

Aula 13 - Análises de conversação, do discurso e de gênero, de narrativa e hermenêutica

             Para debate dessas técnicas de coleta de dados, a turma foi dividida em grupos, onde cada grupo ficou responsável pela apresentação de uma das técnicas. Nosso grupo ficou com "Análise de Discurso", mas até lá vamos apresentar o que os demais colegas falaram e as questões levantadas em cada uma das formas de coletar dados na pesquisa qualitativa. Como obra de base, usamos Flick (2009), em seus capítulos 24 e 25.
           A princípio, o que me chamou atenção foi a proximidade de termos entre Análise de Conversação e Análise de Discurso. Pois meu entendimento prévio era de que a análise de discurso seria análise de falas quaisquer, independente de como era realizada. Mas logo na primeira leitura, e com o reforço da apresentação dos demais colegas, pude entender que a análise de conversação necessariamente capta a interpretação da fala entre dois respondentes, e isso difere da análise de discurso que prima pela compreensão de pronunciamentos, exclusivamente.
                Assim, como a análise de conversação capta a interação social ela faz muito uso da análise de elementos linguísticos para entender as nuances contextuais de cada indivíduo. Para tanto, é fundamental a observação da ordem como os atores se falam, pois nada pode ser considerado aleatório - É fundamental a ordem sequencial da fala. Dessa forma, sugere Flick, que um ponto de partida frequentemente adotado para as análises de conversações é investigar como elas são iniciadas e quais práticas linguísticas são aplicadas para o encerramento dessas conversações de uma forma ordenada.


                 Na análise de discurso o foco empírico é muito mais o conteúdo da fala do que elementos linguísticos. Os procedimentos de análise de discurso se referem à interpretação do conteúdo, e por isso, o pesquisador atento deve buscar ler cuidadosamente todo o material buscando entender o contexto que há latente na fala dos respondentes. Assim, segundo Potter e Wetherell (1987) citado por Flick (2009) as questões de orientação da análise de discurso podem ser melhor visulaizadas na figura a seguir:


         Portanto, é preciso o pesquisador se perguntar sobre os motivos que estão o fazendo entender o texto da forma como está, e assim, as respostas deverão lhe clarear o contexto da fala dos informantes, a variabilidade presente no texto, as construções que podem ser destacadas e relacionadas com a teoria, e assim, elencar as interpretações possíveis diante todos dados coletados. Por fim, um cuidado redobrado com a redação final, pois é através dela que os interessados na pesquisa compreenderá as conclusões do trabalho, bem como o contexto dos respondentes. É importante zelar por esse ponto, pois somente com o entendimento do contexto é que a generalização teórica será melhor entendida.
           Sobre análise de gênero, Flick trata com certa brevidade, mas não com menos importância, ao afirmar se trata de uma abordagem desenvolvida a partir da análise de conversação, onde os padrões e os gêneros comunicativos são vistos como instituições de comunicações. 
         Assim, análise de gênero ficou entendido para mim como os padrões estruturais de comunicação que são registrados com todos os cuidados metodológicos, e em seguida interpretados hermeneuticamente, e em seguida delimitados. São exemplo desse gênero as fofocas e ironias, como no caso da charge a seguir:
 http://diariocaicarense.blogspot.com.br/

                 
                  Alguns elementos da Análise de Narrativas no capítulo 25 de Flick (2009) são que essa técnica necessariamente partem de uma forma específica de ordem sequencial e cronológica.  O objetivo aqui é reconstruir enredos biográficos, para tanto, o pesquisador deve buscar eliminar trechos não biográficos (falas dispersas) e analisar o restante seguindo: 1. análise de dados biográficos; 2. análise do campo temático (para captar o contexto); 3. reconstrução da história de vida; 4. microanálise de segmentos individuais de texto (separação de trechos da fala através de codificação axial); 6. comparação contrastiva entre a história da vida analisada e outras histórias de vida, a fim de trazer elementos novos a partir da fala dos entrevistados.

                A análise hermenêutica objetiva  origina-se na análise das interações naturais e, portanto, um reduto no interacionismo simbólico. Nela a ordem sequencial também é mister, para que sejam captadas a interpretações relevantes da estrutura de significados entre o texto e contexto externo. Existem duas etapas principais, a análise preliminar sequencial, onde a preocupação é com os elementos do contexto externo; e a análise refinada, onde as interpretações vinculam a fala ou o texto com o contexto e suas interações.


FLICK, Uwe. Introdução à pesquisa qualitativa. 3ª ed. Tradução Joice Elias Costa. Porto Alegre: Artmed, 2009 [Capítulos 24 e 25]
              

Aula 12 - Codificação, Categorização, Análise de Conteúdo

        Na aula de hoje vimos como tratar e analisar os dados coletados na pesquisa qualitativa. As discussões tiveram como base os textos de Flick (2009), Sampiere (2013) e Oliveira (2008). A relevância dessa etapa de codificação e categorização está no elemento essencial da pesquisa qualitativa: a interpretação dos resultados. Um bom tratamento dos dados facilita e direciona o pesquisador no ato da interpretação. E isso ocorre de maneira circular, ou seja, ele realiza o tratamento dos dados, faz interpretações, volta para a teoria, depois novamente para os dados e assim sucessivamente.
         Logo, os cuidados nessa etapa podem fazer grande diferença na qualidade da pesquisa qualitativa. A codificação do material tem como objetivo a categorização e/ou desenvolvimento da teoria. Nesse sentido, a codificação teórica é o procedimento para análise de dados coletados para desenvolvimento de uma teoria fundamentada, por exemplo. O processo de interpretação pode ser: a codificação aberta (expressa dados e fenômenos na forma de conceitos); a codificação axial (aprimoramento e diferenciação em categorias; e a codificação seletiva (ocorre uma integração entre os dados como forma de construir relações com nexos entre os dados e o problema de pesquisa em si). 
                Flick (2009) sugere que o pesquisador trabalhe com o texto regular e repetidamente seguindo as seguintes perguntas:

                   
            Uma vez estabelecido esse guia de perguntas para a análise dos dados, sigamos para as recomendações de análise propriamente ditas. E aqui vamos trabalhar com a "Análise de Conteúdo". A discussão em se iniciou com um alerta para a disseminação indiscriminada da análise de conteúdo no Brasil, mas que, em muitos casos, os autores não obedecem todas as etapas que a ferramenta exige. 
             Em geral, os trabalhos com análise de conteúdo replicam os mesmos conceitos, numa espécie de difusão, ou até mesmo uma repetição não reflexiva, valendo-se apenas do "sucesso" de determinados textos. Ou seja, o sujeito copia as partes mais conhecidas da análise de conteúdo porque muitas pessoas a usaram. 
              A análise de conteúdo tem como característica a utilização de categorias, normalmente obtidas a partir de modelos teóricos com objetivo principal de reduzir o material. O procedimento metodológico concreto inclui basicamente três técnicas: a síntese de análise de conteúdos é onde o material é parafraseado no sentido de sintetizá-lo em um nível maior de abstração; a análise de conteúdo busca esclarecer trechos difusos, ambíguos ou contraditórios. E por fim, a análise estruturadora de conteúdo, busca tipos ou estruturas formais no material.
                Existem dois tipos principais de análise de conteúdo, o primeiro que busca observar a frequência dos termos, essa numa dimensão mais quantitativista. Inclusive na aula pudemos conhecer alguns software que realizam essa contagem e apresentam os resultados. Aqui o objetivo é identificar quais termos mais aparecem no conteúdo das falas dos entrevistados. Como por exemplo:

                Na figura acima, podemos perceber a frequência maior das palavras Informação; Conhecimento; Receptor, e outros. Assim, as conclusões que chegamos é que no conteúdo dessa fala ou texto, a palavra "informação" tem grande destaque e por isso devemos relacionar com a teoria que estamos buscando construir ou explicar. Aqui um blog com indicações de software para construir nuvem de palavras dinâmicas: Nuvem de Palavras
              O segundo tipo de análise de conteúdo tem a ver com o significado que cada termo tem com o problema pesquisado. O sujeito centrará esforços em criar relações entre o conteúdo e a teoria analisada, ou construída. Para tanto, ele pode se valer dos mesmo critérios e etapas do modelo anterior, pré analise; tratamento dos dados e exploração do material; e inferências finais.
              Sampiere (2013) lembra que diferente da pesquisa quantitativa, quando primeiro se coleta todos os dados e em seguida irá analisá-los, na pesquisa qualitativa a coleta e análise acontecem praticamente ao mesmo tempo. Portanto, esse processo de "vai e vem" pode ser melhor visualizado como uma espécie de espiral entre teoria, coleta de dados e análise  até a saturação. A figura a seguir, de sua obra, ilustra esse movimento:

             Entre coletar os dados e propor conclusões e generalização, o pesquisa realiza um trabalho interativo e simultâneo até saturar o campo. Logo, após a coleta instrumental dos dados, o pesquisador seguirá para a organização dos mesmo, usando critérios bem definidos; depois preparar os dados para a análise, limpando ruídos e distorções; realizar uma leitura completa desses dados a fim de prosseguir para a etapa seguinte que é identificar pontos de análise de proximidade com sua teoria; realizar as devidas codificações (aberta, axial e seletiva); e por fim propor teorias e considerações que respondam seu problema de pesquisa.


BARDIN, L. Análise de conteúdo (L. de A. Rego & A. Pinheiro, Trads.). Lisboa: Edições 70, 2006. 
FLICK, Uwe. Introdução à pesquisa qualitativa. 3ª ed. Tradução Joice Elias Costa. Porto Alegre: Artmed, 2009. [Capítulos 23]
OLIVEIRA, D. C. Análise de conteúdo temático-categorial - uma proposta de sistematização. Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2008 out/dez; Voume 16, n.4, p. 569-76.
SAMPIERI, Roberto H; COLLADO, Carlos F.; LUCIO, Maria P. B. Metodologia de Pesquisa. 5ª edição. McGraw-Hill, 2013. [Extrato do Capítulo 14 - Análise de dados qualitativos]
          

Aula 10 - Desenhos ou abordagens da pesquisa qualitativa

Nessa aula discutimos sobre os desenhos metodológicos das pesquisa qualitativa, quais sejam: Teoria Fundamentada; Desenhos Etnográficos; Desenhos de Pesquisa Ação; Desenhos Narrativos e Desenhos Fenomenológicos. Para isso, utilizamos as leituras dos livros de Sampiere (2013, cap.15) e Creswell (2014, cap.4).
Com exceção dos Desenhos Fenomenológicos, Sampiere (2013) agrupa em um diagrama seus quatro principais tipos de desenhos da pesquisa qualitativa:

O debate dessa aula se inicia com o tema da Teoria Fundamentada, inicialmente conversamos sobre os aspectos históricos desse método e ficou claro que os primeiros estudos datam de 1960, com Strauss e Glauser. Como conceito, compreendi que se trata de um método que busca construir uma teoria sobre um fenômeno ainda não teorizado. Porém, essa teoria não é aquela formal, normal, natural, mas sim uma teoria de explicação de um fenômeno buscado. Ela não se pretende ser generalizável por frequência, mas sim teórica e particular. Trata-se de uma teoria substantiva.
O desenho sistemático para a Teoria Fundamentada se inicia com uma codificação aberta, onde os autores indicam a necessidade de se fazer primeiro uma codificação aberta reunindo todos os dados levantados, e através de “zig-zag” construir outras categorias. A seguir, o pesquisador realiza uma “codificação axial”, em que o pesquisador vincula os dados com uma categoria central, considerando elementos contextuais, interacionais e gere resultados ou consequências.
O segundo método foi a etnografia. Nesse momento a discussão partiu da etimologia da palavra, no qual descobri pelo site que etno significa “povo, ou nação”. Assim, fica evidente que a etnografia se preocupa com a compreensão de elementos culturais, ritos locais e símbolos de um grupo.
Surgiu a dúvida quanto à postura do pesquisador, ou seja, ele deve ser membro do grupo ou não. Independente disso, como manter sua reflexividade sem viés? Dentre os tipos de etnografias, temos o modelo realista onde o pesquisador extrai elementos do grupo um tanto positivista. Outro mais crítico, onde se busca a compreensão de questões mais sociais.
Destaco o tipo de etnografia em que o pesquisador buscar responder a sua experiência no grupo, e suas percepções. Assim, ele pode fazer uso de “autoetnografia”.

Desenhos narrativos, o elemento chave são as experiências pessoais e o aspecto cronológico da narração está sempre presente. Sempre que possível é importante utilizar documentos que validem a narração, como e-mails, cartas, ata de reuniões e outros.
Algumas recomendações podemos destacar aqui para um desenho de pesquisa narrativa: 
  1. O elemento principal são as experiências pessoais, grupais e sociais dos atores;
  2. A narração inclui uma evolução cronológica dos fatos passados, presentes e perspectivas futuras;
  3. As histórias de vidas devem ser narradas em primeira pessoa;
  4. O pesquisador alia dados documentais como livros, cartas, atas, e outros arquivos às narrativas dos entrevistados; e outros.
Assim, a pesquisa narrativa segue a sequencia (Sampiere, 2013):



A Pesquisa Ação tem reduto na postura epistemológica construtivista pois visa, além da compreensão da realidade, uma intervenção na realidade pesquisada. Aqui faço uma relação com um dos focos da pesquisa qualitativa que é a (re)construção da realidade, para isso o pesquisador pode se valer de dados textuais, visuais ou documentais. Mas ao fim da sua pesquisa, os frutos são notados apenas em publicações, é diferente disso que a pequisa ação propõe uma ação transformadora da realidade. É a pesquisa qualitativa promovendo mudanças de melhoria na sociedade.
Logo, a pesquisa ação pressupõe ações práticas que estimule o aprendizado dos participantes locais, a fim de que após a pesquisa, eles possam dar continuidade às práticas implementadas. Outro elemento chave é o viés participativista, onde os atores são estimulados a propor melhorias, colaborações integrativas, que visem o desenvolvimento e emancipação dos membros.
Um plano de ação bem simples e objetivo que se pode fazer inclui quatro etapas: Identificar o problema; elaborar o plano, implementar e avaliar o plano; e retroalimentar o plano, fazendo ajustes. Sempre seguindo recomendações de circularidade da pesquisa qualitativa, ou seja, não linear. A seguir alguns exemplos de Sampiere (2013) de problemas de pesquisa ação:

Outro desenho se chama "Fenomenológico", uma expressão já conhecida por nós desde o debate da postura epistemológica na pesquisa qualitativa. Essencialmente, esse desenho busca compreender a subjetividade do sujeito. Ou seja, busca captar o ponto de vista de cada indivíduo ou grupo social, suas intuições, experiências, ou percepções sobre um dado fenômeno.

Reflexão:  A decisão de enveredar-se pela pesquisa qualitativa exige requisitos a priori que tem a ver com a forma que o sujeito anseia compreender o fenômeno. Uma vez escolhida essa jornada, o problema a que se quer responder indicará se o desenho será narrativa, etnográfico, pesquisa ação, fenomenológico ou teoria fundamentada.
Entretanto, um apontamento feito aqui é que em sua grande maioria os pesquisadores já definem o seu problema de pesquisa a partir do seu entendimento de como acessar a realidade pesquisada. Ou seja, há uma circularidade entre o fenômeno e a postura epistemológica do pesquisador, logo, o desenho da pesquisa vem como o melhor "encaixe" entre o sujeito, o objeto que ele quer pesquisar e o problema de pesquisa almejado.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Aula 11 - Documentação de dados - Notas de campo, Diário de pesquisa, Fichas de documentação, Transcrição

       Uma vez que conversamos elementos importantes da coleta de dados, ressaltamos aqui uma preocupação que deve ser constante na pesquisa qualitativa - a documentação dos dados. Mas o que isso significa? A documentação constante dos dados quer dizer o cuidado que o pesquisador deve ter em registrar sempre as informações, tanto os dados coletados quanto as reflexões e relações contextuais.
        No capítulo 22 de Flick (2009), ele afirma que nas observações a tarefa principal é documentação das ações e das interações como forma de enriquecimento contextual. Isso vem ser importante para que na análise posterior dos dados, o pesquisador possa realizar as relações teóricas e fundamentar suas generalizações. O processo de documentação consiste em três etapas:
             Gravar propriamente dito requer cuidados técnicos, o que pode ser feito com celular (modernos como os atuais), porém eu recomendaria o uso de gravador próprio para esse fim, pois isso minimiza as possibilidades de imprevistos situacionais. 
                  Em seguida, a transcrição, que pode ser total, captando os humores e interjeições, quando, por exemplo se quer fazer uma análise de discurso; ou uma transcrição seletiva, quando se quer apenas uma análise de conteúdo. É importante definir as convenções da transcrições como seus símbolos e códigos das reações dos entrevistados, conforme aponta Drew (1995) em Flick:
                 
                

                  E por fim, a construção de uma nova realidade, o que a meu ver melhor deveria ser chamada de "(re)construção". Essa etapa foi bastante destacada em sala de aula como o grande trunfo da pesquisa qualitativa e vantagens de registros documentais constantes. A essa reconstrução da realidade com o uso de textos, Flick chama de: a Realidade como Texto: o Texto como nova realidade.
              Estamos nos formando enquanto pesquisadores para compreender a realidade e poder contribuir de alguma forma para sua melhoria. Logo, é mister pensar que ao fim de um trabalho sejamos capazes de reconstruir uma realidade apontando novas formas de convivência social, para tanto, o uso de registros documentais ensejará uma melhor rememoração das reflexões e relações contextuais surgidas no ato da coleta de dados. Eu acrescentaria dizendo que esse registro é fundamental em todas as fases da pesquisa.
                Um debate que proporcionou boas reflexões em sala foi quanto à possibilidade de perda de naturalidade com o uso de gravadores. Os entrevistados, por vezes, podem reclamar de timidez diante aparelhos gravadores. Um dos alunos falou que em sua pesquisa teve que dispensar o uso desses aparelhos porque o entrevistado alegou certa fobia e que não faria a entrevista com gravadores. 
                Claro que esse caso é uma exceção, mas em geral o pesquisador tem o dever de conduzir a entrevista tentando tranquilizar os respondentes diante o uso de gravações, além de registrar os cuidados éticos com os dados coletados. Os primeiro minutos de tensão podem ser aliviados com perguntas genéricas e abertas, e em seguida com os entrevistados mais à vontade, inserir perguntas mais diretivas.

                  Flick salienta dois tipos de registros documentais: Notas de Campo e Diário de Pesquisa.
 Na primeira, fazemos um registro de conclusões feitas após cada contato individual de campo. Isso é fundamental para o que dissemos antes, rememorar as reflexões no ato da generalização teórica final, mas também importantíssimo para quem deseja trabalhar com a Teoria Fundamentada, que exige circularidade em todas as fases. O uso do diário de pesquisa abrange todas as fases, registra os fatos, reflexões, contextos, dificuldades, conclusões parciais desde a formulação inicial da pesquisa até as fases conclusivas. 
                Realizar o registro das atividades de campo na pesquisa qualitativa proporciona ao pesquisador maior proximidade com o contexto do fenômeno investigado, para isso, existem técnicas e cuidados, que uma vez obedecidas leva o sujeito a compreender melhor a realidade investigada. Isso permite reconstruir sua gestalt a fim de analisá-la, fragmentá-la, sintetizar e propor novos significados.