quarta-feira, 4 de maio de 2016

Aula 9 - Estudo de Caso - Yin, Creswell e Godoy

Estudo de Caso é um dos métodos de pesquisas mais utilizados na área de Administração, porém será que estamos utilizando-o de maneira cientificamente rigorosa e coerente com o problema de pesquisa proposto? Na aula do dia 29/04 o debate sobre estudo de caso buscou trabalhar os seguintes pontos:
1- Situar o Estudo de Caso dentre as estratégias de pesquisa;
2 - Caracterizar os tipos de estudo que se encaixam nesse método;
3 - Destacar as classificações dos tipos de estudo de caso
4 - Recomendações para a Coleta dos dados

Na leitura do texto de Godoi vimos que os primeiros estudos na área organizacional já trabalhavam com o "estudo de caso", isso ocorre ainda nos anos de 1950. Foi nesse período também que os estudos sobre sociologia organizacional trouxeram estudos de casos, e que esses deram suporte ao Tavistock Intitute. Entretanto os primeiro estudos americanos localizados por Platt (1922) apud Godoi (2000) datam da década de 1920 a 1930. E na escola de Chicago, de 1910 a 1940.

Com o crescimento dos estudos positivistas na década de 1960, os estudos de casos tiveram um declínio, e reinserem-se na literatura com a Escola de Chicago e na Europa, nos anos 1980.

É fato que o estudo de caso é bastante utilizado em pesquisas mais qualitativas, mas segundo Yin (2001), esse método também possibilita o uso de ferramentas quantitativas. Porém, compreendo que o auge das escolas positivistas podem ter contribuído para a queda do uso do estudo de caso.

No início do debate estabelecemos mais uma vez que a questão mister definidora da melhor estratégia de pesquisa seria o "tipo de questão de pesquisa". Desta forma, a escolha por uma pesquisa histórica, análise de arquivos, levantamento de dados (survey), estudo de caso ou qualquer outra seria balizada pelo problema de pesquisa o qual o pesquisador se propõe responder.

Dito isso, destacamos a partir de Yin (2001) que o estudo de caso deve ser contemporâneo e não histórico, e estabelece cuidados que vão além dos argumentos normalmente usados (contemporâneo, em profundidade e um caso real). Para cada uma dessas estratégias, é preciso se atentar para a forma de questão de pesquisa, a ver:






















Através do quadro, citado no livro de Yin (2001), pode-se entender que para se realizar um estudo de caso o pesquisador precisa buscar responder questões do tipo: "Como" e "Por que", além de não se propor controlar os eventos comportamentais, e de fato, buscar entender fatos contemporâneos. 

Em definição de Goode e Hatt, (1968), estudo de caso "é um meio de organizar dados sociais preservando o caráter unitário do objeto social estudado."

Dessa forma fica explícita adequação das perguntas de questão de pesquisa de Yin (2001) com a definição de Goode e Hatt. Pois para se construir e organizar dados sociais de um caso, é necessário partir de perguntas amplas e não limitantes a uma relação causal pontual.

Identifiquei dois pontos importantes na compreensão do que é um estudo de caso. Primeiro, como já fica evidente, a necessidade de particularizar o estudo, observando os elementos que caracterizam o fenômeno no caso e vice-versa. Segundo, o caráter descritivo, tanto da caracterização do caso quanto da apresentação dos resultados obtidos, mas aqui não se trata de uma descrição superficial e sim uma descrição densa, fazendo uso da heurística e interpretatividade das informações.

Uma vez que esses pontos não são observados, a pesquisa acaba perdendo seu rigor metodológico e científico, o que muitas vezes contribui para os preconceitos a esse método, dito por Yin(2001). Além disso, o autor chama atenção para o fato de que as pesquisas com estudo de caso são vistas como de baixo poder de generalização, uma vez que esse termo é visto como a capacidade que o estudo tem de se replicar em outras realidades. Para isso, Yin(2001) alerta que é necessário destacar que o estudo de caso não se propõe a esse tipo de generalização, mas sim uma generalização teórica. Ou seja, o estudo de caso é capaz de formular postulados teóricos acerca das observações particulares do caso.
Outro preconceito é de que esses estudos demoram muito. E de fato, os pesquissadores devem ter o cuidado para não se delongarem muito no estudo de caso, incorrendo no risco de se confundir com etnografia.

O estudo de caso pode ser único ou múltiplo, mas vimos em sala que um número ideal para se ter a saturação teórica é 6. Entretanto, esses estudos devem manter a profundidade de análise, o que compreende em utilizar triangulação de técnicas de coleta e análise de dados convergentes com a questão de pesquisa, pois se forem isolados ele será apenas subestudos.

Com esses cuidados metodológicos o pesquisador decide por utilizar o estudo de caso, e então, precisa primar por outros detalhes. Primeiro, que unidade de análise ele quer observar, e dentro dessa unidade "o que" especificamente ele quer responder (isso parte do problema de pesquisa). 

Uma vez que isso foi decidido, eu devo saber se o caso será único ou serão casos múltiplos? Se ele será único, qual o argumento? Ele deve ser emblemático, especial, raro ou apresentar algum outro elemento que sustente minha decisão.

Além disso, ele pode ser instrumental, ou seja, servir para ilustrar um fenômeno que desejo explicar, ou intrínseco, que quer dizer que ele possui elementos particulares especiais que merecem uma observação.

Quanto ao uso da teoria, ocorreu um primoroso debate em sala. A questão era, o pesquisador deve dominar a teoria e ir a campo ou não dominar a teoria e ir a campo imune de preconceitos?
Esse debate ocorreu em virtude de uma técnica de pesquisa que se chama "Teoria Fundamentada" (grounded theory). Nela o pesquisador controi uma teoria, e para isso ele não deve levar preconceitos teóricos para o campo.

Minha reflexão é de que o pesquisador precisa ter um bom conhecimento teórico para daí partir boas questões de pesquisas e para que ele tenha aguçada a percepção no ato de observar o fenômeno. E não é pelo fato de ele conhecer a teoria que ele perderá sua capacidade heurística de interpretar o fenômeno, não se deixar levar por preconceitos científicos e com isso ser impedido de formular novas teorias.

Com isso encerro minha construção do portfólio com a ideia de que fiz muitos estudos de caso sem rigor metodológico, sem os cuidados destacados pelos textos e pelo debate em sala. Orientei muitos estudos sem me atentar para essas questões, mas buscarei evitar esse erros nos demais.

Abraços