A última aula da disciplina começou com um debate sobre a Ética na pesquisa qualitativa, o uso de ferramentas computacionais e uma visão geral sobre a importância da qualidade na pesquisa. Para isso, usamos os capítulos 4; 26; 28; e 29; novamente a turma foi dividida em grupos e meu grupo com a apresentação da Qualidade na Pesquisa Qualitativa (cap. 29).
ÉTICA NA PESQUISA
Falar de Ética em pesquisa qualitativa sempre proporciona boas discussões pois há uma relação muito próxima entre sujeito e objeto, logo, é muito tênue a linha que separa o "invasivo" do "envolvimento". Uma vez respeitando esse limite,o que fazer com os dados? Como publicar? Como proteger a privacidade das pessoas?
Os cuidados com a ética na pesquisa adveio após escândalos como os "praticados a
prisioneiros em pesquisas e experimentos realizados por médicos, durante o
período nazista na Alemanha, são exemplos horripilantes que levaram à
elaboração de códigos de ética para a pesquisa." (FLICK, 2009). Para compreender melhor esses casos, busquei um vídeo sobre o tema:
Auschwitz - Experimentos Médicos - Legendado
Os abusos éticos que podem ser observados nesse vídeo horrível trouxe para a pesquisa a preocupação ética e daí a formulação de códigos de ética em diversas áreas. No Brasil, a ética na pesquisa está vinculada às pesquisas em Saúde, através do Conselho Nacional de Saúde com a CONEP - Comissão Nacional de Ética nas Pesquisas. Entretanto, recentemente esse Conselho aprovou o Comitê de Ética em Pesquisa nas Ciências Humanas. Logo, as pesquisas em ciências humanas e sociais deverão ter o cuidado com os termos de ética, e isso deve se estender para os programas de pesquisa e pós graduação, bem como aos periódicos.
Os cuidados com a ética na ciência perpassam primeiramente com questões de plágio, cópia total ou parcial de outras pesquisas sem citar a fonte configura apropriação de conhecimento alheio. Inclusive já houve casos judiciais em torno disso, como nesse caso: UFMG cassa diploma de doutorado de professora por plágio.
Além disso, a ética também diz respeito à confidencialidade dos dados coletados; ao consentimento dos informantes em conceder uma entrevista, por exemplo; à proteção e dignidade dos participantes; e à confidencialidade na redação da pesquisa. Tudo isso proporciona à pesquisa qualitativa maior qualidade na generalização uma vez que todos esses cuidados contribui para uma maior credibilidade dos dados.
Um debate que ocorreu na sala sobre esse tema foi a respeito dos métodos de observação versus o consentimento dos observados. A questão foi: O fato de os observados saberem que estão sendo observados não causaria um viés nos dados? Ou seja, sabendo que estão sendo "objetos" de uma investigação científica, eles não mudariam o comportamento?
Após a apresentação das diversas opiniões, concluo que (retornando os ensinos sobre a técnica de observação), em se tratando de uma observação em situação natural e pública não há necessidade de se obter termo de consentimento dos observados, pois isso invalidaria a pesquisa. Mas numa situação especial, em ambiente preparado para tal observação, todos os observados devem consentir assinando termo específico.
O USO DOS COMPUTADORES
É mais do que óbvia a popularização do uso de tecnologia (não somente o computador) nas atividades cotidianas de todas as pessoas, e especificamente, no trabalho científico não poderia ser diferente. E em se tratando de pesquisa qualitativa algumas recomendações são triviais e outras especiais, como a indicação de software específicos.
A obra de Flick (2009) ainda está um pouco desatualizada diante os avanços da tecnologia, mas ele aponta algumas formas de como a tecnologia pode ser empregada: anotações no campo; transcrição; edição de dados; codificações; armazenagem; busca de dados no texto; redação geral; mapeamento geral; associação de termos; e outras. A seguir alguns software que podem ajudar na pesquisa qualitativa:
O uso do computador e das demais tecnologias são de grande valia para o desenvolvimento da pesquisa qualitativa, mas não podemos esquecer das recomendações metodológicas que são primícias de uma pesquisa com qualidade. Os software estão ali para auxiliar a pesquisa, cabe ao pesquisador atento saber manipulá-lo para alcançar os objetivos e responder ao problema de pesquisa.
QUALIDADE NA PESQUISA QUALITATIVA
Quais os critérios para se avaliar uma pesquisa qualitativa? Eles devem ser os mesmos para a pesquisa quantitativa? Há uma crítica ao que se chama de "plausibilidade seletiva" que é o uso somente de recortes textuais que validem a tese de pesquisa. Isso na pesquisa qualitativa é muito comum, mas como garantir que essa seleção de trechos não comprometem a qualidade da pesquisa?
A primeira recomendação é quanto ao uso adequado dos métodos de pesquisa, pois um cuidado nessa etapa contribui para a confiabilidade dos dados e compreensão por parte de quem vai ler sua pesquisa. Na sequência uma busca pela validação dos dados com base na fidedignidade das respostas e triangulação dos métodos.
Por fim, a decisão de se escolher pela pesquisa qualitativa requer uma reflexão do pesquisador que extrapole o senso comum de ser mais "fácil" ou mais "difícil", que ultrapasse preocupações instrumentais ou de conveniência, como proximidade com o fenômeno observado... Essa decisão envolve critérios definidos por Flick (2009):
E após essas reflexões, triangulação de métodos, comparação de casos, e conclusões finais, o pesquisador é designado a realizar uma avaliação como uma espécie de auditoria de conformidade. Para no final, pode apresentar suas generalização com confiabilidade, credibilidade e validade. Não queremos com isso demonstrar que a pesquisa qualitativa é mais difícil ou complexa que a pesquisa quantitativa, mas é uma outra forma de se chegar à proximidade do fenômeno, e por ser científica, deve seguir passos criteriosos e rigorosos tanto quanto a pesquisa quantitativa.
*FLICK, Uwe. Introdução à pesquisa qualitativa. 3ª ed. Tradução Joice Elias Costa. Porto Alegre: Artmed, 2009 [Capítulos 4, 26, 28 e 29].