quinta-feira, 17 de março de 2016

Aula 1 - Pesquisa Qualitativa: por que e como fazê-la (FLICK, 2009)

Boa tarde, 
Tratamos aqui dos elementos básicos, históricos, contextuais e perspectivas da Pesquisa Qualitativa. Para tanto, faremos uso do capítulo 02 de Flick (2009), que traz como objetivos:

1- Compreender a história e a fundamentação da pesquisa qualitativa.
2- Discutir as tendências atuais da pesquisa qualitativa.
3- Entender as características gerais da pesquisa qualitativa e a diversidade das perspectivas
de pesquisa.
4- Compreender por que a pesquisa qualitativa consiste em uma abordagem oportuna e
necessária na pesquisa social.

Com o advento da pluralização das relações sociais, a pesquisa positivista, e portanto, com o uso de estratégicas quantitativas de coleta de dados, não era mais suficiente para apreender o conhecimento. Essa realidade não é mais entendida como fixa, dura e estanque, mas uma realidade que muda com os contextos, que depende do observador e que precisa ser investigada por métodos que satisfaça essa necessidade.

É nesse contexto que argumentamos a relevância da pesquisa qualitativa. Ela surge como uma forma de responder questões não observadas pela pesquisa quantitativa, ou mesmo, por suas próprias limitações, como: necessidade de isolar os elementos de causa e efeito para explicar um fenômeno, desenvolver teorias e modelos que sejam generalizados a ponto de o fenômeno ser obrigado a se repetir em diferentes realidades, controlando as mesmas variáveis (ou categorias de análise), os enunciados são classificados de maneira independente, e os fenômenos são observados a partir das suas repetições frequenciais.

Para compreender essa relação entre pesquisas quantitativas, do paradigma positivista, e o surgimento da pesquisa qualitativa, busquei o livro de Ribeiro (1994), para entender as origens do positivismo. E vi que essa corrente surgiu como forma de romper com as ideias impostas pela igreja católica, que buscava explicar a natureza e as relações sociais a partir de um fundamento de revelação divina.

Com o avanço das pesquisas, essa forma de entender a realidade não era mais suficiente, e a ciência precisa criar métodos que validassem seus postulados. E ainda, exigir que toda explicação da realidade tivesse que ser fundamento por método científico. Porém, esses métodos não foram suficientes para explicar fenômenos que buscassem compreender a subjetividade do sujeito, é então que as pesquisas qualitativas passam a ganhar mais relevância.

Weber (1919) vem cunhar o termo "desencantamento do mundo" para criticar a forma como os positivistas enxergam a realidade, como um ideal de verificar a natureza dissociando totalmente o sujeito do fato observado. E com isso, posso afirmar que a pesquisa qualitativa vem preencher propor uma aproximação entre sujeito e objeto de pesquisa, buscando entender a realidade a partir dos olhares do observador.

Para tanto, a pesquisa qualitativa contem alguns aspectos que a caracteriza, dentre eles a necessidade de se apropriar de seus próprios métodos, ou seja, isolar fenômenos complexos criando relações fortes entre os resultados da pesquisa e os fatos empíricos observados, bem como com a utilização do método mais ideal para entender o fenômeno.
Além disso, analisar a realidade a partir das diferentes perspectivas do sujeito, e as múltiplas possibilidades de entender o mundo, a influência da reflexão do pesquisador diante do objeto, as interações e os padrões de comunicação entre os sujeitos, e por último a influência das estruturas culturais sobre o sujeito e o fenômeno.

Quanto às origens da pesquisa qualitativa, posso estabelecer, a partir da leitura duas principais escolas, e suas respectivas explicações quanto às origens e evoluções da pesquisa qualitativa: A escola Alemã e a Escola de Chicago. Em termos gerais, a escola alemã é mais aberta às possibilidades de se construir conhecimento a partir da realidade, utilização de seus próprios métodos de colete de dados; já a Escola de Chicago, tem uma relação muito forte com o pragmatismo, buscando se legitimar com o uso de alguns pressupostos do positivismo.
A seguir o quadro de Flick (2009) com um comparativo que descreve bem as diferenças e semelhanças entre as duas escolas:

A pesquisa qualitativa possui três principais tipos de perspectivas, ou posturas (ainda que essas tipologias possam variar conforme a escola e os autores), são elas: Interacionismo Simbólico; Etnometodologia e Estruturalista. Onde a primeira busca compreender os significados a partir do sujeito e os símbolos que para ele representa, nesse ponto o uso de entrevistas semiestruturadas; no segundo, busca-se as interações entre os atores, com o uso dos grupos focais; e no terceiro, a influência dos aspectos culturais, através de análise hermenêutica.

Dentre as possibilidades de pesquisa qualitativa, Flick traz as análises de narrativas biográficas, que diferentes do caráter universal das grandes narrativas positivistas, aqui ela busca a essência do sujeito e seu contexto inserido. Cita a teoria fundamentada, como estratégia de permitir que a realidade se manifeste e a partir disso construir uma teoria, o inverso da abordagem quantitativa, que parte da teoria para a realidade. Tem a etnografia, como uma possibilidade de ir além da observação participante, mas também se inserir na realidade, vivenciá-la e compreender as suas singularidades mais internas. O autor destaca também os estudos culturais e os estudos de gênero nessa abordagem.

Para realizar uma pesquisa qualitativa é preciso definir bem o seu problema e o objeto de estudo, assim o pesquisador poderá calibrar sua lente de observação. Somado a isso, é fundamental que ele conheça as possibilidades dessa abordagem, tais como o uso de software adequado, o tratamento dos dados, a ponderação entre as escolas alemãs e a norte-americana (construir conhecimento a partir da realidade, mas tratar os dados com rigor para que ele seja validado), fazer triangulação para se aproximar ao máximo da realidade, e indicar futuros estudos ou métodos de se aproximar daquele fenômeno que o pesquisador observou, não como uma forma de replicar mas como uma forma de guiar outros cientistas em pesquisas semelhantes.

Aqui o Mapa Conceitual:



Referências para além de Flick:

RIBEIRO JÚNIOR, J. O que é positivismo? 2ed. São Paulo. Brasiliense, 1994 (Coleção Primeiros Passos)

domingo, 13 de março de 2016

Aula 3 - Posturas teóricas da pesquisa qualitativa


Para esse encontro estivemos imbuídos de compreender as posturas espistemológicas da pesquisa qualitativa. Partimos do ponto destacado por Schwadt de que a Investigação qualitativa é uma denominação relativamente recente, datado de 1970 no meio acadêmico, esse movimento surge de um posicionamento crítico ao paradigma defendido até então, o positivimo. 

A partir de críticas epistemológicas, ontológicas e metodológicas, o movimento da pesquisa qualitativa passa a construir seu próprio paradigma. Passando, sobretudo, a defender a compreensão de um fenômeno a partir da manifestação do sujeito, considerando a realidade a partir do olhar dos sujeitos, e não considerando essa realidade como fruto de observação passiva do pesquisador.

Considerando a combinação dos diferentes textos lidos e trabalhados em sala de aula, estabeleço como marcos discursivos: 

1 - Conhecer as principais teorias que embasam a pesquisa qualitativa;
2 - Destacar as singularidades e semelhanças dessas teorias;
3 - Compreender as diferenças entre positivismo e construtivismo;
4 - Considerar a relação entre as pesquisas feministas e essa abordagem qualitativa;

Com base na classificação indicada por Flick (2009) há três posturas básicas da pesquisa qualitativa: Interacionismo Simbólico; Etnometodologia; e Estruturalista ou Pscicanalista.

1 - Interacionismo Simbólico
Essa postura foi desenvolvida a partir da tradição filosófica do pragmatismo norte-americano, advida da Escola de Chicago. Em termos gerais, trata-se de uma postura onde o significado do fenômeno parte da subjetividade  atribuída pelos indivíduos e suas atividades cotidianas.
Esse termo foi cunhado por Blumer (1938), quando ele estabeleceu três premissas básicas: i) os seres humanos agem de acordo com o significado que as coisas tem para eles; ii) esse significado origina-se ou resulta da interação entre os indivíduos; e iii) esses significados podem ser controlados em um processo interpretativo e modificados pela pessoa ao longo do tempo para lidar com as coisas com as quais se depara.
Em suma, no interacionismo simbólico os pesquisadores precisam enxergar o mundo do ponto de vista dos sujeitos

2) Etnometodologia
Nessa postura, a compreensão do fenômeno está na análise dos métodos empregados pelos sujeitos para produzir a realidade existente, ou seja, na compreensão dos padrões de interação entre os indivíduos, padrões esses que são visivelmente racionais e explicáveis diante do cotidiano das pessoas. Ela tem como fundador Harold Garfinkel (1967), e como premissas a ideia de que a interação organiza-se estruturalmente; moldam e são moldadas pelo contexto; e que nenhum detalhe dessa interação pode ser descartado. A ênfase encontra-se nos processos de comunicação dessa interação.
Assim, o foco não é o significado subjetivo do indivíduo, mas o modo como essa interação é organizada. E para se abster de interpretação a priori, o pesquisador busca uma postura de indiferença etnometodológica, uma vez que a compreensão está no entendimento do contexto no qual o sujeito está inserido.

3) Modelos Estruturalista
A palavra principal que destaca essa postura é cultura. Nesse modelo as estruturas profundas não são acessíveis às reflexões individuais, elas estão latentes e contidas nos modelos culturais de uma sociedade. Por isso que são melhor estudadas pela psicanálise que busca compreender esses inconscientes e a forma como eles influenciam o indivíduo. Compreendem, por exemplo, os inconscientes coletivos, os quais não podem ser percebidos pelo individuo.

A proximidade entre as premissas dificultou, no primeiro momento, a compreensão das singularidades e semelhanças entre essas posturas. Para sanar essa dúvida, busquei em blogs com linguagem mais objetiva, as origens dessa postura, a formação dos autores que a postularam e outras formulações das premissas (Referências no final do texto)

Como resultado verifiquei que a grande semelhança entre elas é que a compreensão do fenômeno se dá a partir dos estudos sobre o contexto no qual o indivíduo está inserido.  E as diferenças começam quando se pretende entender o ponto de origem dos significados.  Como o interacionismo simbólico surge da psicologia social, com o filósofo e cientista social Georg Herbert Mead (1863 - 1931), e se desenvolve na década de 1930 com Blumer, apreendi que a necessidade naquele momento era de atribuir ao sujeito o significado dos fenômenos. A realidade não seria mais algo dado e passível somente de observação, mas algo mutável a partir do significado que os indivíduos davam para a realidade.

A premissa dois diz que esses significados surgem na interação entre os indivíduos, mas esse surgimento na interação se dá num processo dialético entre os indivíduos, que constroem os grupos e as coletividades, que por sua vez interferem na conduta do indivíduo.

Na minha pesquisa, verifiquei que esse posicionamento do interacionismo simbólico é contrário às ideias sociológicas totalizantes, como o funcionalismo, que admitia que as relações e ações sociais eram derivadas de normas e regras sociais pre-estabelecidas. 

Porém com a Etnometodologia, a origem desses significados está na interação entre os sujeitos. Ainda que Heritage (1985) afirme a importância do contexto nas relações de interação, fica evidente que esse contexto ocupa um lugar de passividade diante da interação entre os sujeitos, na postura etnometodologista.

Já para os modelos estruturalistas, a ordem social, a estrutura latente e os aspectos culturais são os principais indutores para explicar a origem dos significados das coisas. 

Compreendo a existência de uma ordem social dinâmica entre essas três posturas, e que elas são complementares para explicar os significados sociais. Destacar uma delas para realizar uma pesquisa, pode ser compreensível metodologicamente, mas insuficiente para entender a realidade social e como os sujeitos se relacionam. Conforme afirma Flick, a origem do entendimento dos significados pode estar em cada um dessas três posturas (no indivíduo, na interação ou na cultura), e complemento, essa origem pode se dá na relação entre as três. O significado de um fenômeno pode surgir numa relação dialética entre indivíduo, enquanto ser coletivo e interativo, e a realidade cultural a qual ele está inserido.

No livro de Schwadt (2006), pode-se compreender das três posturas epistemológicas - interpretativismo; hermenêutica e construtivismo social - a relação entre o sujeito e o objeto que ele quer pesquisar. 
No interpretativismo, o sujeito observa o fenômeno e busca não interferir no mesmo. para melhor compreensão, relacionei esse conceito com a indiferença etnometodológica (FLICK, 2009), com a redução fenomenológica (no artigo de Maisonnave, 2008) e com o termo epoché (grego, que significa suspensao de juízo). Um exemplo disso capto da ideia radical de Teoria Fundamentada, que propõe a ausência de leitura prévia, para evitar conceitos preconcebidos.

Entretanto, após discussão em sala de aula, destaco dois tipos de posicionamentos diante o fenômeno pesquisado. Um deles é quando o pesquisador se fecha nos seus conceitos e parte para a interpretação do fenômeno sem permiti-lo que se manifeste diferente de seus preconceitos, isso é nocivo para a pesquisa qualitativa. Porém, quando o pesquisador se "alimenta" de conhecimento, admite conceitos, constrói seu referencial teórico de partida, mas permite que a realidade se mostre de maneira diferente, e esse pesquisador constrói seus postulados a partir da realidade que encontra, independente dos conceitos preconcebidos, o interpretativismo não foi prejudicado.

Na hermenêutica filosófica, aprendi que o sujeito não deve fazer esforço para se afastar do objeto analisado, como uma fuga total da realidade. Pois o sujeito, enquanto ser pensante, pode refletir o mundo que vive sem precisar sair desse mundo. A compreensão é uma interpretação, e portanto, não é uma atividade isolada, ela é fruto de nossas experiências.

A terceira postura epistemológica chama-se construcionismo, para eles a realidade não é fixa, passivamente observada. Eles nem afirmam nem negam o mundo lá fora, mas também discordam que o mundo só pode ser descoberto independentemente do intérprete. Durante o texto, Schwadt vai caracterizar o construcionismo como fraco ou forte. 

O Construcionismo Fraco, explicado por Longino (1990), defende que o mundo real restringe nossa construção do conhecimento, assim, o pesquisador não constrói conhecimento totalmente desincorporado da realidade, para ele é preciso ter um "empirismo contextual", os elementos do contexto influenciam a realidade e passam a interferir na formulação de conceitos, hipóteses para explicar a realidade.
O Construcionismo Forte, defendido por Denzin (1997), argumenta que as formas de vida estão delineados por uma linguagem propriamente dos indivíduos, e que é possível produzir representações reais do mundo que traçam fielmente a realidade.

As dicotomias teóricas sempre me incomodaram. Repito, é necessário que o pesquisador escolha sua lente de observação do mundo, mas atribuir que uma postura espistemológica é a melhor ou a única para se compreender a realidade é ingenuidade científica. Assim, procurei um texto que relativizasse esses conceitos e encontrei o de Bresser-Pereira (2008), chamado "A verdade e seus objetos". Nele o autor chama atenção para o fato de o pós-modernismo, no afã de desconstruir as verdades colocadas pelo positivimo - através dos métodos indutivo-dedutivo, hipotético dedutivo - lançou mão das verdades simples e abarcou o relativismo.

Pois bem, o autor afirma que apesar do relativismo ter se espalhado, a verdade e a confiabilidade continuam sendo necessidade do ser humano, não só para o desenvolvimento científico e tecnológico, mas também das próprias relações sociais.

De um lado temos os que negam as verdades, até mesmo as mais simples, e de outro os que aceitam as verdade simples, mas se acomodam nessas verdades e negam a existência de outras interpretações de realidades mais complexas, afirma Bresser.

Digo isso para "relativizar o relativismo", e por sua vez os postulados do construcionismo (sobretudo o construcionismo "forte" ou "radical"). Ainda que a realidade das relações complexas possam ser interpretadas de diferentes formas, há conceitos que consensualmente acordados e, portanto, verdades para aquele contexto. 

Fica como aprendizagem dessa aula a necessidade de se assumir, dentro da pesquisa qualitativa, as lentes de observação da realidade, não como the best one, mas como uma escolha particular do sujeito em relação ao objeto analisado, no contexto específico. Tanto o positivismo quanto o interpretativismo podem ser lentes de compreensão do fenômeno, eles não são antagônicos, dicotômicos, mas duas formas diferentes de se chegar à compreensão do mesmo fenômeno, ainda que dê respostas diferentes.




1-      BRESSER PREREIRA, L. C. A verdade e seus objetos . ( acesso ao site www.bresserpereira.org.br em 24/2/2010)
*FLICK, Uwe. Introdução à pesquisa qualitativa. 3ª ed. Tradução Joice Elias Costa. Porto Alegre: Artmed, 2009 [Capítulos 6].
*SCHWANDT, T. Três posturas epistemológicas para a investigação qualitativa: interpretativismo, hermenêutica e construcionismo social. In:  DENZIN, N. K., LINCOLN, Y. S. e colaboradores. O planejamento da pesquisa qualitativa: teorias e abordagens, Porto Alegre, Bookman e Artmed, 2006, Cap. 7, p. 193-217.
VERGARA, Sylvia C.; CALDAS, Miguel P. Paradigma interpretacionista: a busca da superação do objetivismo funcionalista nos anos 1980 e 1990, Revista de Administração de Empresas - RAE, v. 45, n.4, out/dez 2005, p. 66-72.  
WEBER, R. Editor’s Comments - the rhetoric of positivism versus interpretivism: a person view. MIS Quarterly, v. 28, n. 1, p. iii-xii, March 2004.

http://www.cafecomsociologia.com/2012/09/goffman-e-o-interacionismo-simbolico.html

http://louisecomunicacao.blogspot.com.br/2010/11/interacionismo-simbolico.html

http://educacao.uol.com.br/disciplinas/sociologia/interacionismo-simbolico---fundamentos-blumer-e-o-estudo-das-interacoes-sociais.htm

Aula 2 - Métodos Qualitativos - A importância da Literatura para a Pesquisa Qualitativa

Boa noite,
Nesse primeiro post iremos falar de como escolher bem a literatura para sua pesquisa qualitativa. Para isso vamos utilizar o capítulo 5 do livro "Introdução a Pesquisa Qualitativa" - Flick.
Dentre os pontos importantes nesse capítulo temos: 
1 - Perceber a relevância da literatura existente para o planejamento da pesquisa;
2 - Compreender a necessidade de contar com a literatura metodológica, bem como com as pesquisas já realizadas na sua área;
3 - Familiarizar-se com a busca de literatura relevante na sua área.

Será que existe algo que ainda não foi pesquisado? Será que existe uma área ou fenômeno que, mesmo não tendo sido estudado, não exista um bojo de teorias que explicam os fenômenos que o antecedem? Talvez você faça um esforço para identificar um fenômeno com essas características. Mas creio que será muito difícil identificar.

Para se iniciar uma pesquisa é preciso que o pesquisador já tenha lido muitos materiais e teorias que antecedem seus questionamentos de pesquisa. Essa literatura é fundamental para explicar os caminhos que o pesquisador percorreu até chegar no fenômeno a ser investigado. Ainda que se trate de uma pesquisa que utiliza a "Teoria Fundamentada" (a ser vista mais a frente), o cientista sempre terá um pano de fundo, um arcabouço de leituras que conduzira-o ao fenômeno de interesse.

Para conhecer mais sobre essa "Teoria Fundamentada" eu busquei o artigo de Rocha-Pinto, Freitas e Maisonnave (2008), intitulado: "Métodos interpretativistas em Administração: as implicações para o(a) pesquisador(a)" - ENANPAD - 2008. Nesse artigo, os autores explicam os cuidados que devemos ter na utilização da grounded theory, ou Teoria Fundamentada, foi meu primeiro contato com esse conteúdo, e pude entender que mesmo que o pesquisador queira ir a campo sem teoria, observar o fenômeno, e depois construir sua teoria, é fundamental que ele tenha uma base teórica que o ajude na indicação de questões, construção de categorias e categorização dos dados, para enfim realizar seus postulados. 

Foi então que ficou mais evidente a importância que Flick concede à literatura, teorias e estudos de casos já realizados sobre o fenômeno a ser pesquisado por mim.

Pois bem, é esse arcabouço teórico que Flick chama atenção nesse capítulo. Eu compartilho do pensamento do autor, pois nenhuma pesquisa surge sem uma literatura prévia, ainda que seja a "descoberta" de uma nova teoria, mas o pesquisador sempre terá que explicar o que já foi escrito sobre o tema, quais os casos empíricos que já foram realizados sobre aquele fenômenos e quais os métodos para se construir a sua explicação.

Essas literaturas prévias servem para fundamentar os argumentos do pesquisador uma vez que ele pode ainda realizar comparações entre o que já foi escrito com a sua pesquisa e sugerir mudanças metodológicas a partir de seus resultados ou mesmo reafirmar teorias e métodos que foram utilizados para pesquisas sobre aquele tema.

Há três tipos de teorias que Flick recomenda que o pesquisador utilize. A primeira se refere aos estudos mais avançados sobre o tema, essa é uma forma de o cientista identificar, por exemplo as lacunas do conhecimento, o que já existe e o que precisa ser estudado sobre o tema. A esse grupo, Flick chamou de teorias substantivas.

No segundo grupo estão os conteúdos que ajudam a construir uma conceitualização sobre o fenômeno estudado, É nesse momento que o pesquisador reúne tudo que já fora escrito sobre o fenômeno, a esse bojo de teorias, Flick chama de Teoria das Representações Sociais.

E no terceiro pontos, temos as teorias do contexto da pesquisa. Nesse grupo estão as teorias que caracterizam os elementos contextuais do fenômeno a ser investigado. Se o pesquisador pretende investigar, por exemplo, as comunidade quilombolas, ele precisa reunir teorias que descrevam essas comunidades e o faça compreender as nuances desse grupo.

No uso de literaturas empíricas, Flick cita Strauss e Corbin para dizer que o pesquisador pode fazer comparações com o seu estudo, mas também aprimorar a sua sensibilidade quanto ao fenômeno estudado. Melhorar a sua percepção quanto a descrição da realidade, inspirar para elaboração de questões de pesquisa, agrupar dados secundários e outros.

Conhecer as estratégias metodológicas já utilizadas sobre o fenômeno que se quer estudar indicam os caminhos que o pesquisador precisa seguir, isso assegura o investigador não só na metodologia como também nas escolhas ontológicas e epistemológicas. Ao fim, os resultados de sua pesquisa poderá ser comparada com as já existentes podendo validar ou falsear determinadas teorias.

Por fim, Flick indica alguns sites de busca científica para o acesso a publicações já realizadas na área. Dentre as opções de pesquisa no Brasil temos o banco de teses e dissertações do IBCTI (http://bdtd.ibict.br/vufind/); as indicações de periódicos da CAPES; As bases de dados do Scielo, Lilacs e outras; e o próprio Google Acadêmico.

Abraços