Boa noite,
Nesse primeiro post iremos falar de como escolher bem a literatura para sua pesquisa qualitativa. Para isso vamos utilizar o capítulo 5 do livro "Introdução a Pesquisa Qualitativa" - Flick.
Dentre os pontos importantes nesse capítulo temos:
1 - Perceber a relevância da literatura existente para o planejamento da pesquisa;
2 - Compreender a necessidade de contar com a literatura metodológica, bem como com as pesquisas já realizadas na sua área;
3 - Familiarizar-se com a busca de literatura relevante na sua área.
Será que existe algo que ainda não foi pesquisado? Será que existe uma área ou fenômeno que, mesmo não tendo sido estudado, não exista um bojo de teorias que explicam os fenômenos que o antecedem? Talvez você faça um esforço para identificar um fenômeno com essas características. Mas creio que será muito difícil identificar.
Para se iniciar uma pesquisa é preciso que o pesquisador já tenha lido muitos materiais e teorias que antecedem seus questionamentos de pesquisa. Essa literatura é fundamental para explicar os caminhos que o pesquisador percorreu até chegar no fenômeno a ser investigado. Ainda que se trate de uma pesquisa que utiliza a "Teoria Fundamentada" (a ser vista mais a frente), o cientista sempre terá um pano de fundo, um arcabouço de leituras que conduzira-o ao fenômeno de interesse.
Para conhecer mais sobre essa "Teoria Fundamentada" eu busquei o artigo de Rocha-Pinto, Freitas e Maisonnave (2008), intitulado: "Métodos interpretativistas em Administração: as implicações para o(a) pesquisador(a)" - ENANPAD - 2008. Nesse artigo, os autores explicam os cuidados que devemos ter na utilização da grounded theory, ou Teoria Fundamentada, foi meu primeiro contato com esse conteúdo, e pude entender que mesmo que o pesquisador queira ir a campo sem teoria, observar o fenômeno, e depois construir sua teoria, é fundamental que ele tenha uma base teórica que o ajude na indicação de questões, construção de categorias e categorização dos dados, para enfim realizar seus postulados.
Foi então que ficou mais evidente a importância que Flick concede à literatura, teorias e estudos de casos já realizados sobre o fenômeno a ser pesquisado por mim.
Pois bem, é esse arcabouço teórico que Flick chama atenção nesse capítulo. Eu compartilho do pensamento do autor, pois nenhuma pesquisa surge sem uma literatura prévia, ainda que seja a "descoberta" de uma nova teoria, mas o pesquisador sempre terá que explicar o que já foi escrito sobre o tema, quais os casos empíricos que já foram realizados sobre aquele fenômenos e quais os métodos para se construir a sua explicação.
Essas literaturas prévias servem para fundamentar os argumentos do pesquisador uma vez que ele pode ainda realizar comparações entre o que já foi escrito com a sua pesquisa e sugerir mudanças metodológicas a partir de seus resultados ou mesmo reafirmar teorias e métodos que foram utilizados para pesquisas sobre aquele tema.
Há três tipos de teorias que Flick recomenda que o pesquisador utilize. A primeira se refere aos estudos mais avançados sobre o tema, essa é uma forma de o cientista identificar, por exemplo as lacunas do conhecimento, o que já existe e o que precisa ser estudado sobre o tema. A esse grupo, Flick chamou de teorias substantivas.
No segundo grupo estão os conteúdos que ajudam a construir uma conceitualização sobre o fenômeno estudado, É nesse momento que o pesquisador reúne tudo que já fora escrito sobre o fenômeno, a esse bojo de teorias, Flick chama de Teoria das Representações Sociais.
E no terceiro pontos, temos as teorias do contexto da pesquisa. Nesse grupo estão as teorias que caracterizam os elementos contextuais do fenômeno a ser investigado. Se o pesquisador pretende investigar, por exemplo, as comunidade quilombolas, ele precisa reunir teorias que descrevam essas comunidades e o faça compreender as nuances desse grupo.
No uso de literaturas empíricas, Flick cita Strauss e Corbin para dizer que o pesquisador pode fazer comparações com o seu estudo, mas também aprimorar a sua sensibilidade quanto ao fenômeno estudado. Melhorar a sua percepção quanto a descrição da realidade, inspirar para elaboração de questões de pesquisa, agrupar dados secundários e outros.
Conhecer as estratégias metodológicas já utilizadas sobre o fenômeno que se quer estudar indicam os caminhos que o pesquisador precisa seguir, isso assegura o investigador não só na metodologia como também nas escolhas ontológicas e epistemológicas. Ao fim, os resultados de sua pesquisa poderá ser comparada com as já existentes podendo validar ou falsear determinadas teorias.
Por fim, Flick indica alguns sites de busca científica para o acesso a publicações já realizadas na área. Dentre as opções de pesquisa no Brasil temos o banco de teses e dissertações do IBCTI (http://bdtd.ibict.br/vufind/); as indicações de periódicos da CAPES; As bases de dados do Scielo, Lilacs e outras; e o próprio Google Acadêmico.
Abraços
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