Boa tarde,
Tratamos aqui dos elementos básicos, históricos, contextuais e perspectivas da Pesquisa Qualitativa. Para tanto, faremos uso do capítulo 02 de Flick (2009), que traz como objetivos:
1- Compreender a história e a fundamentação da pesquisa qualitativa.
2- Discutir as tendências atuais da pesquisa qualitativa.
3- Entender as características gerais da pesquisa qualitativa e a diversidade das perspectivas
de pesquisa.
4- Compreender por que a pesquisa qualitativa consiste em uma abordagem oportuna e
necessária na pesquisa social.
Com o advento da pluralização das relações sociais, a pesquisa positivista, e portanto, com o uso de estratégicas quantitativas de coleta de dados, não era mais suficiente para apreender o conhecimento. Essa realidade não é mais entendida como fixa, dura e estanque, mas uma realidade que muda com os contextos, que depende do observador e que precisa ser investigada por métodos que satisfaça essa necessidade.
É nesse contexto que argumentamos a relevância da pesquisa qualitativa. Ela surge como uma forma de responder questões não observadas pela pesquisa quantitativa, ou mesmo, por suas próprias limitações, como: necessidade de isolar os elementos de causa e efeito para explicar um fenômeno, desenvolver teorias e modelos que sejam generalizados a ponto de o fenômeno ser obrigado a se repetir em diferentes realidades, controlando as mesmas variáveis (ou categorias de análise), os enunciados são classificados de maneira independente, e os fenômenos são observados a partir das suas repetições frequenciais.
Para compreender essa relação entre pesquisas quantitativas, do paradigma positivista, e o surgimento da pesquisa qualitativa, busquei o livro de Ribeiro (1994), para entender as origens do positivismo. E vi que essa corrente surgiu como forma de romper com as ideias impostas pela igreja católica, que buscava explicar a natureza e as relações sociais a partir de um fundamento de revelação divina.
Com o avanço das pesquisas, essa forma de entender a realidade não era mais suficiente, e a ciência precisa criar métodos que validassem seus postulados. E ainda, exigir que toda explicação da realidade tivesse que ser fundamento por método científico. Porém, esses métodos não foram suficientes para explicar fenômenos que buscassem compreender a subjetividade do sujeito, é então que as pesquisas qualitativas passam a ganhar mais relevância.
Weber (1919) vem cunhar o termo "desencantamento do mundo" para criticar a forma como os positivistas enxergam a realidade, como um ideal de verificar a natureza dissociando totalmente o sujeito do fato observado. E com isso, posso afirmar que a pesquisa qualitativa vem preencher propor uma aproximação entre sujeito e objeto de pesquisa, buscando entender a realidade a partir dos olhares do observador.
Para tanto, a pesquisa qualitativa contem alguns aspectos que a caracteriza, dentre eles a necessidade de se apropriar de seus próprios métodos, ou seja, isolar fenômenos complexos criando relações fortes entre os resultados da pesquisa e os fatos empíricos observados, bem como com a utilização do método mais ideal para entender o fenômeno.
Além disso, analisar a realidade a partir das diferentes perspectivas do sujeito, e as múltiplas possibilidades de entender o mundo, a influência da reflexão do pesquisador diante do objeto, as interações e os padrões de comunicação entre os sujeitos, e por último a influência das estruturas culturais sobre o sujeito e o fenômeno.
Quanto às origens da pesquisa qualitativa, posso estabelecer, a partir da leitura duas principais escolas, e suas respectivas explicações quanto às origens e evoluções da pesquisa qualitativa: A escola Alemã e a Escola de Chicago. Em termos gerais, a escola alemã é mais aberta às possibilidades de se construir conhecimento a partir da realidade, utilização de seus próprios métodos de colete de dados; já a Escola de Chicago, tem uma relação muito forte com o pragmatismo, buscando se legitimar com o uso de alguns pressupostos do positivismo.
A seguir o quadro de Flick (2009) com um comparativo que descreve bem as diferenças e semelhanças entre as duas escolas:
A pesquisa qualitativa possui três principais tipos de perspectivas, ou posturas (ainda que essas tipologias possam variar conforme a escola e os autores), são elas: Interacionismo Simbólico; Etnometodologia e Estruturalista. Onde a primeira busca compreender os significados a partir do sujeito e os símbolos que para ele representa, nesse ponto o uso de entrevistas semiestruturadas; no segundo, busca-se as interações entre os atores, com o uso dos grupos focais; e no terceiro, a influência dos aspectos culturais, através de análise hermenêutica.
Dentre as possibilidades de pesquisa qualitativa, Flick traz as análises de narrativas biográficas, que diferentes do caráter universal das grandes narrativas positivistas, aqui ela busca a essência do sujeito e seu contexto inserido. Cita a teoria fundamentada, como estratégia de permitir que a realidade se manifeste e a partir disso construir uma teoria, o inverso da abordagem quantitativa, que parte da teoria para a realidade. Tem a etnografia, como uma possibilidade de ir além da observação participante, mas também se inserir na realidade, vivenciá-la e compreender as suas singularidades mais internas. O autor destaca também os estudos culturais e os estudos de gênero nessa abordagem.
Para realizar uma pesquisa qualitativa é preciso definir bem o seu problema e o objeto de estudo, assim o pesquisador poderá calibrar sua lente de observação. Somado a isso, é fundamental que ele conheça as possibilidades dessa abordagem, tais como o uso de software adequado, o tratamento dos dados, a ponderação entre as escolas alemãs e a norte-americana (construir conhecimento a partir da realidade, mas tratar os dados com rigor para que ele seja validado), fazer triangulação para se aproximar ao máximo da realidade, e indicar futuros estudos ou métodos de se aproximar daquele fenômeno que o pesquisador observou, não como uma forma de replicar mas como uma forma de guiar outros cientistas em pesquisas semelhantes.
Referências para além de Flick:
RIBEIRO JÚNIOR, J. O que é positivismo? 2ed. São Paulo. Brasiliense, 1994 (Coleção Primeiros Passos)
SÍNTESE MUITO BOA!
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