quinta-feira, 2 de junho de 2016

Aula 8 - Pesquisa qualitativa online: a utilização da internet - Cap. 20 (Flick,2009)

Nesse capítulo, o autor trata dos seguintes objetivos:

  • usar a internet na pesquisa qualitativa
  • entender as vantagens do uso da internet como apoio para seu estudo
  • explicar como os métodos da pesquisa qualitativa são utilizados para estudar-se a internet
  • compreender a forma como abordagens básicas da pesquisa qualitativa podem ser transferidas aos métodos de pesquisa baseados na internet.
Nesse capítulo aprendemos que o uso da internet pode se dar de formas variadas, dentre elas o próprio estudo dela como objeto de pesquisa. Hoje observamos o crescente uso da internet nas atividades mais rotineiras, logo, entender o comportamento e as suas utilizações são um fenômeno riquíssimo de análise. Para isso, o pesquisador pode fazer uso de diversas técnicas  e métodos, como observação, entrevistas, grupos focais e outros.
Nesse momento eu fiz relação com um tema bastante discutido atualmente que é a possibilidade de limite de uso de internet por parte das operadoras de banda larga (atualmente fundidas com as operadoras de telefonia móvel e Tv por assinatura).

"A partir do ano que vem, todos os planos de internet fixa de Vivo, Net e Oi — três das principais operadoras de telecomunicação do Brasil — deverão ser oferecidos com limite de dados. Com a inclusão desse teto nos contratos das operadoras de telefonia, o uso que as famílias fazem da internet fixa pode mudar."

Link: 
http://zh.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/noticia/2016/03/planos-de-banda-larga-serao-por-limite-de-uso-de-dados-em-2017-5113400.html


Assim, pesquisar o uso de internet nesse cenário traz um elemento diferente, pois os brasileiros estam acostumados a utilizar esse serviço de maneira intensa, visto como um dos países que mais usam banda larga no mundo (apesar da baixa velocidade em comparação com outros países tecnologicamente desenvolvidos).

Seguindo essa direção, o pesquisador que decidir utilizar esse meio para realizar sua pesquisa deverá estar familiarizado com as tecnologias que fara uso e se o grupo de pessoas pesquisadas por ele também tem essa ligação com a internet e se esse é o único (ou mais adequado ao problema de pesquisa) meio de se coletar os dados.

Uma vez que a decisão pelo uso da Web para a realização da pesquisa, o cientista irá decidir sobre qual método utilizar, então Flick (2009) faz uma análise dos métodos e suas devidas modificações e adaptações para a Web. Assim, ele trabalha com quatro tipos de métodos: Entrevista online (uso do email); Grupos Focais online; Etnografia Virtual; e Análise de documentos na internet.

No caso da Entrevista Online o autor recomenda que ela pode ser mais indicada quando a entevista cara a cara traga algum constrangimento para o entrevistado, e o pesquisador presuma que ao enviar o roteiro de perguntas e recebe-lo por email, o entrevistado fique mais a vontade para se expressar.
Eu nunca havia imaginado nesse tipo de entrevista, pois ele mais se assemelha a um questionário com perguntas abertas, do que entrevista propriamente dito. Essa dúvida é prontamente pontuada por Flick na sequência do texto.
O autor argumenta que esse método pode ser indicado para casos em que há grandes distâncias entre entrevistado e pesquisador, podendo ser analisados os dados através de codificações e categorizações. Porém, não proporciona grande flexibilidade na aplicação.

ENTREVISTA ONLINE
No primeiro momento, ao ler o termo "entrevista online", imaginei que fosse um tipo de entrevista feita através de ferramentas como skype, hangout, e etc. ou seja, tecnologias que possibilitasse a entrevista face a face, mas por meio de software. Ou ainda, por meio de troca de mensagens instantâneas, como chat, whatsapp, redes sociais e outros. Conforme indica Costa, Dias DiLuccio (2009): "Com o advento da Internet, grande parte dessas conversas migrou para os ambientes de troca instantânea de mensagens on-line, que se popularizaram rapidamente. O argumento central deste trabalho é o de que, desde então, a coleta de dados por meio de entrevistas on-line, baseadas no modelo das conversas cotidianas informais que também ocorrem on-line, se tornou um procedimento de pesquisa sério e viável."

Com isso concluo que entrevista online é o tipo de método que mantém as mesmas diretrizes da entrevista presencial, mas com o uso de tecnologias que possibilitem a sua aplicação no tipo não presencial. Ela pode ocorrer ao vivo, com o uso de video conferência ou por mensagens instantâneas com o uso de aplicativos como whatsapp ou chats, por exemplo.

GRUPOS FOCAIS ONLINE

Aqui Flick (2009) novamente traz a ideia de que os grupos focais podem ser feitos com suas devidas adaptações para o universo online. Ele defende que esse método pode ser em tempo real ou não. Como no método presencial, o moderador deve ter o cuidado para que as pessoas tenham o mesmo programa de compartilhamento como conferências, mas ele não tem como garantir que as pessoas atendam a todos os critérios estabelecidos.
O problema central é que o pesquisador terá dificuldades em contextualizar os participantes em suas devidas realidades. Mas como vantagens, esse método pode possibilitar que participantes mais tímidos possam se expressar, uma vez que eles estarão "protegidos" pela distância física do grupo.

ETNOGRAFIA VIRTUAL
Aqui o autor considera algumas limitações na adaptação para a realidade virtual, uma vez que a internet tem um modo particular de de ser, onde as pessoas interagem de um modo singular, com linguagens específicas.
Nesse sentido o pesquisador mantem o que Hine defende, ou seja, vivenciar o meio e interagir com os participantes, mas entendendo as suas limitações tecnológicas. Num grupo onde as comunidades virtuais se interagem, cada membro possui seu modo particular de ver o mundo, mas nos debates há certos padrões que criam limites entre os membros.
Um exemplo disso são os debates ocorridos nas redes sociais, as interações entre os membros são balizadas por regras implícita de convívios, uma vez que essas regras são rompidas, o próprio grupo trata de criar barreiras ou censuras.
Desse modo, Flick diz que a etnografia virtual nunca é holística, mas parcial, buscando compreender apenas elementos que vêm à realidade virtual observada. Para isso, ele faz uso de observação, entrevistas, análise de discurso e outros. 

ANÁLISE DE DOCUMENTOS Online
Flick (2009) traz esse método e atribui algumas recomendações quanto ao uso de site e ferramentas de buscas, bem como a importância de se realizar as devidas citações de fonte e dados do acesso. Parte dessas recomendações já são amplamente difundidas atualmente, mas vale ressaltar os aspectos éticos no uso e tabulação dos dados documentais.  Para a segurança e credibilidade das informações, o autor recomenda a triangulação dos métodos.
Além disso, imagino que esse método pode ser interessante para analisar documentos públicos digitalizados, relatórios de gestão publicados somente na versão online, acesso a documentos online em locais mais afastados do pesquisador. Para isso, o cientista faz uso das mesmas diretrizes da analise documental, mas com suas peculiaridades do universo online.

Realizar uma pesquisa online traz seus dilemas técnicos, conceituais e éticos. Do ponto de vista técnico, o pesquisador deve considerar a qualidade de conexão tanto dele quanto dos respondentes, bem como a habilidade que os pesquisados têm com a tecnologia. Além disso, ele deve pensar em alinhar seu método com seu problema de pesquisa e suas intenções científicas. E ao fim, com as questões de anonimato e cuidados com o trato textual com os pesquisados.


Para ilustrar a pesquisa qualitativa online, consegui dois textos que tratam do assunto. O primeiro fala sobre a entrevista online, feita através de aplicativo de mensagens instantâneas:
Uso de entrevistas on-line no método de explicitação do discurso subjacente (MEDS)
Ana Maria Nicolaci-da-Costa*; Daniela Romão-Dias; Flávia Di Luccio
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
RESUMO
Tradicionalmente, tal como outros métodos qualitativos que usam entrevistas, a coleta de dados do MEDS é realizada em encontros presenciais que têm como modelo as conversas cotidianas em contextos informais. Com o advento da Internet, grande parte dessas conversas migrou para os ambientes de troca instantânea de mensagens on-line, que se popularizaram rapidamente. O argumento central deste trabalho é o de que, desde então, a coleta de dados por meio de entrevistas on-line, baseadas no modelo das conversas cotidianas informais que também ocorrem on-line, se tornou um procedimento de pesquisa sério e viável. São, portanto, discutidas as especificidades, requisitos, vantagens e desvantagens desta nova forma de entrevista. São, ainda, revelados o histórico, os raciocínios e as necessidades que a legitimam.
Palavras-chave: MEDS; métodos qualitativos; entrevistas on-line; conversa informal.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722009000100006

E o segundo foi uma experiência empírica no mundo de jogos online, analisando suas imagens.

Usos da Etnografia em mundos virtuais baseados na imagem 

Resumo A etnografia é uma técnica consagrada na pesquisa em ciências sociais, especialmente na antropologia. Contudo, os novos espaços de comunicação mediados pela tecnologia têm apresentado desafios à sua aplicação, face à desterritorialização, anonimato e registros limitados, em maioria, ao texto escrito. Esses novos formatos comunicacionais propiciaram o surgimento de diversas adaptações da etnografia para o meio online, abordando características típicas de websites, fóruns de discussão, redes sociais, chats e MUDs1. Entretanto, os jogos massivos 2online, denominados MMORPGs (Massively Multiplayer Online Role-Playing), incorporam fortemente a imagem em sua experiência interativa, apresentando avatares3 gráficos e interações gestuais entre personagens, ou seja, é uma experiência do mundo visual simulada em três dimensões. Além disso, pode-se ver a formação de identidades que se expandem além do jogo usando outros canais online, e até alcançando o off-line. Estas inovações abrem novas dimensões para o uso da etnografia (inclusive a antropologia visual) em mundos virtuais online, onde requer adaptações das técnicas existentes. Inicialmente, é feita uma revisão das principais técnicas etnográficas aplicadas ao meio online, depois se discute modificações que as características específicas dos MMORPGs imprimiriam a tais técnicas. Conclui-se que o aspecto imagético e ambientação baseada em uma interface tridimensional de tais jogos, de certa forma, possibilitam a aplicação das técnicas mais clássicas de etnografia. Palavras-chave: etnografia; mundos virtuais; jogos online; imagem; mmorpgs.

Link:
http://arca.icict.fiocruz.br/bitstream/icict/3848/1/Usos_etnografia_mundos_virtuais_imagem.pdf

COSTAAna Maria Nicolaci-da-; DIAS, Daniela Romão-;  DI LUCCIO, FláviaUso de entrevistas on-line no método de explicitação do discurso subjacente (MEDS), Psicol. Reflex. Crit. vol.22 no.1 Porto Alegre  2009





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