segunda-feira, 20 de junho de 2016

Aula 07 - Coleta de dados na pesq. qualitativa - Observação, Etnografia, Dados visuais e Documentos como dados

           Nessa aula debatemos sobre os tipos de coletas de dados na Pesquisa Qualitativa, dentre eles a Observação, Etnografia, Dados Visuais e Documentos. Para tanto, a aula foi balizada pela obra de Flick - Introdução a Pesquisa Qualitativa, 2009.
          Segundo Flick, a técnica de observação na pesquisa qualitativa tem sido essencial na sua história, sobretudo nos EUA. Podemos destacar dois principais tipos de observação: a participante e a não participante. Esse debate sobre a intervenção no pesquisador no campo de coleta de dados é longo e pode ser discutido desde a postura epistemológica do pesquisador. 
          A princípio devemos distinguir a observação como técnica da observação enquanto ato comum do pesquisador em relação ao fenômeno. Esta última é parte da pesquisa de todo pesquisador em relação a seu objeto de pesquisa, em essência somos todos observadores de fatos e usamos diversas técnicas de aproximação com o objeto investigado, dentre elas a "observação".
          Em buscas diversas no YouTube, localizei um vídeo que pode ajudar a entender o pesquisador enquanto observador da realidade. A partir do título já nos instiga a assistir: "O observador é o Observado - O Eu é real ou apenas uma imagem? - com Dr.Krishnamurti.

          No vídeo podemos entender a visão dos pesquisadores sobre a relação do sujeito com o objeto observado, a sua própria realidade no tempo e no espaço. Logo, o desafio de compreender o fenômeno na pesquisa qualitativa é complexo pois envolve a postura do sujeito em todas as suas fases.
          Já na observação enquanto método de coleta de dados, mote dessa aula, ocorre em diversas dualidades:


Tipos de Observação
Fator diferenciador
Secreta
Pública
Até que ponto a observação é revelada aos observados?
Não-Participante
Participante
Até que ponto o observador precisa tornar-se componente ativo na observação?
Sistemática
Não sistemática
Há um esquema de observação padronizado ou mais flexivo?
Situação Natural
Situação Artificial
As observações são realizadas num campo de interesse ou deslocadas para um local especial?
Auto observação
Observação das outras pessoas
Há observação auto reflexiva do observador, ou das outras pessoas?

           (Flick, 2009)

          Em relação ao observador participante, ele pode ser: participante completo; participante como observador; Observador como participante; observador completo. Entre todas elas, o que se pode usar como fator diferenciador é o fato de o pesquisador participar e interferir no campo ou apenas observá-lo sem interferência.
       Para ilustrar o que seria uma pesquisa por observação participante, localizei uma peça publicitária de uma empresa chamada Big.Lar, onde o observador interage com as crianças e filma suas reações no ato da pesquisa.

            Apesar de ser uma peça publicitária, ela consegue ilustrar o que seria uma pesquisa científica participante com o uso de tecnologia de filmagens. Fosse uma pesquisa acadêmica, o observador poderia bem utilizar a observação pública, participante, sistemática, em situação artificial, de outras pessoas.
           Dentre as etapas desse método, podemos citar segundo Flick,(2009), a seleção do ambiente, definição do que deve ser documentado, treinamento dos observadores, observações focais e referentes ao problema de pesquisa, observações eletivas e saturação teórica das observações. As limitações do estudo é que na não participante é muito difícil o pesquisador se manter completamente afastado sem interferir ou conseguir elementos importantes sem se tornar membro do grupo.
         Para minimizar essas limitações, existe uma técnica chamada "Etnografia". Buscando rapidamente a etimologia da palavra, vimos que "a etnografia (do grego έθνος, ethno - nação, povo e γράφειν, graphein - escrever) é por excelência o método utilizado pela antropologia na coleta de dados. Baseia-se no contato inter-subjetivo entre o antropólogo e o seu objeto, seja ele uma tribo indígena ou qualquer outro grupo social sob o qual o recorte analítico seja feito. (Wikipédia)"
            Uma definição acadêmica de Hammersley e Atkinson (1995), no livro e Flick (2009) se aproxima da anterior ao dizer que etnografia em sua forma mais característica, implica a participação pública ou secreta do etnógrafo na vida cotidiana das pessoas por um período prolongado de tempo, observando o que acontece, escutando o que é dito, fazendo perguntas, e coletando qualquer dado que disponível que ajude a esclarecer as questões de pesquisa.
             Uma variante da etnografia é a fotoetnografia, que se utiliza da "leitura" visual de fotos como coleta de dados científica. Aqui apresento o exemplo do "projeto fotoetnográfico “o índio que você não vê” é um ensaio em narrativa visual feito com dez etnias de Alagoas que busca desmistificar a ideia engessada e folclórica do estereótipo indígena no Nordeste, estes geralmente marcados pela descaracterização dos sinais diacríticos, visto que foram os que mais sofreram com isso por estarem localizados em áreas litorâneas e, consequentemente, mais propícios à miscigenação e à incorporação de elementos socioculturais externos. Projeto realizado paralelo à elaboração do Atlas de Terras Indígenas em Alagoas no Laboratório de Antropologia Visual em Alagoas"
Visite o site: O Índio que você não vê 


               A etnografia tem sido um método poderoso na pesquisa qualitativa pós-moderna sobretudo na psicologia cultural e do desenvolvimento. Entretanto é necessário ter o cuidado com a arbitrariedade metodológica de seu uso e primar pelo rigor científico a fim de conseguir as generalizações teóricas almejadas.
                
                Nos capítulos 18 e 19 de Flick, ele apresenta algumas orientações no uso de fotografia, filmes, vídeos e outros documentos que podem contribuir para a observação, e etnografia. O uso de imagens, por exemplo pode ser interessante para repassar a leitura visual do contexto observado. As filmagens e vídeos, da mesma forma, contribui em casos em que se almeja captar a percepção dos observados quanto à interpretação de um fato. Por exemplo, colocar um vídeo da Primeira Guerra Mundial e buscar as reações dos espectadores.
                  No caso de outros documentos, Wollf (2004) afirma que são artefatos padronizados na medida em que ocorrem tipicamente em determinados formatos como: notas, relatórios de casos, contratos, rascunhos e outros. Eles podem ser primários, quando são produzidos pelo próprio pesquisador, ou secundários, quando já existem e são acessados pelo pesquisador.
                As dificuldades inerentes a eles, são o acesso, que pode ser restrito ou público, e a confiança das informações. Além disso, Scott (1990) atenta para outros aspectos como Autenticidade do documento, Credibilidade, representatividade e significação. Como exemplo, trouxe aqui uma imagem de um documento oficial de Dom Pedro Henrique D'Orleans Bragance.

Em 1941, em Petrópolis, o príncipe imperial do Brasil, Dom Pedro Henrique D´Orléans Bragance, manda uma carta para um embaixador no Rio de Janeiro.



"(...)agradecendo o embaixador por uma carta que ele tinha mandado para anunciar uma boa notícia (não se sabe qual), pede desculpa pelo atraso explicando que se encontrava em Minas Gerais e espera encontrar o embaixador no Rio De Janeiro."

             Realizar uma pesquisa qualitativa requer envolvimento total do pesquisador, é um trabalho árduo e complexo, mas instigante. O uso de tais métodos de coleta de dados exige rigor científico, para que ao fim se possa atingir os objetivos almejados. Compreendo que o pesquisador não deve, nem sequer consegue, afastar-se do fenômeno, contudo deve manter olhos atentos para não "burlar" os dados do campo. 
               A observação se dá ao observar e isso só é possível com a intervenção humana. Óbvio! Portanto, lutar por um afastamento, é assumir a postura de que o pesquisador não sabe pesquisar. Do contrário, acredito que o uso adequado de dados, como documentos, fotos, vídeos e outros, capacita o pesquisador a pesquisar. Somente com o usos de dados disponíveis que ele consegue alcançar uma maior proximidade com a verdade do fenômeno.

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