quinta-feira, 2 de junho de 2016

Aula 4 - Iniciando o Processo da Pesquisa Qualitativa - Flick (2009)

A decisão por qual abordagem o pesquisador se enveredará requer reflexão profunda e não somente aptidão entre ele e o objeto a ser observado. As diferenças epistemológicas e metodológicas entre métodos qualitativos e quantitativos (apesar de algumas discordâncias) partem logo do processo da pesquisa, até o comportamento do pesquisador no campo, bem como o tratamento dos dados e da amostra selecionada.
Nessa aula foram discutidas os elementos mais fundamentais para a pesquisa qualitativa e suas singularidades, para tanto, debatemos os capítulos 8 a 12 do livro de Flick (2009).

No capítulo 8 vimos que a pesquisa quantitativa segue um modelo mais linear, onde o trabalho parte da teoria, estabelece-se hipóteses e em seguida vai ao campo testá-las. Já na pesquisa qualitativa, o autor traz o exemplo da Teoria fundamentada para chamar atenção de que nem sempre a pesquisa segue essa linearidade, mas sim uma circularidade entre o campo e a teoria.
Logo, a pesquisa qualitativa pressupõe uma compreensão diferente da pesquisa no geral que vai além dos métodos de coleta de dados, abrange o entendimento específico da relação entre o tema e o método. De forma restrita é compatível com a lógica da pesquisa familiar à pesquisa experimental ou quantitativa. A postura do pesquisador, na pesquisa qualitativa, deve levar em consideração o fato da interdependência mútua das etapas isoladas do processo de pesquisa.
A contraposição a este modelo é a abordagem da teoria fundamentada que dá prioridade aos dados e ao campo em estudo sobre as suposições teóricas. O objetivo deste método é incluir o contexto no estudo e os métodos escolhidos. O modelo da teoria fundamentada traz consigo alguns aspectos: amostragem teórica, codificação teórica e redação e teoria. A abordagem da circularidade das partes do processo de pesquisa no modelo da pesquisa fundamentada é uma característica central da abordagem e é relevante por abarcar análises de casos. A circularidade representa um dos pontos fortes da abordagem, uma vez que obriga o pesquisador a refletir permanentemente sobre o processo de pesquisa e as etapas específicas à luz das outras etapas.

Na sequência, Flick trata das "questões de pesquisa" no capítulo 9 ao afirmar que nessa fase é essencial uma formulação clara e objetiva, pois todo o trabalho de pesquisa será balizado por essas questões. O autor ressalta que as questões de pesquisa devem ser formuladas em termos concretos, a fim de esclarecer-se o que os contatos de campo supostamente deverão revelar. Segundo ele, quanto menor a clareza na formulação de uma questão de pesquisa, maior é o risco do pesquisador encontrar-se impotente diante da tentativa de interpretar os dados. O envolvimento em determinados contextos históricos e sociais também são cruciais na decisão sobre uma questão específica que depende em grande parte do interesse prático do pesquisador. No que tange a delimitação da pesquisa, está sempre relacionada a redução da variedade e, assim, a estruturação do campo em estudo. A especificação de uma área de pesquisa é resultado da formulação de questões de pesquisa que ajudará ao pesquisador delimitar um tema que considera essencial, mesmo que o campo permita ao pesquisador várias definições de pesquisa deste tipo. Outro ponto importante é a abordagem da triangulação sistemática de perspectivas refere-se a combinação de perspectivas e de métodos de pesquisa apropriados que sejam convenientes para levar em conta o máximo possível de aspectos distintos de um mesmo problema.

No capítulo 10 vimos algumas questões sobre a entrada no campo, tais como o problema do acesso a instituições e indivíduos e o problema da estranheza e da familiaridade das organizações e indivíduos com os pesquisadores. O autor aponta que a questão do acesso ao campo em estudo  na pesquisa qualitativa é mais crucial do que na pesquisa quantitativa, pois o contato na pesquisa qualitativa é mais intenso e mais próximo do que na pesquisa quantitativa, o que exige maior exigência das pessoas envolvidas. A questão sobre a forma como conseguir acesso a um campo e aquelas pessoas e processos que representam um interesse específico no campo merece atenção especial.
O pesquisador e seu entrevistado, na pesquisa qualitativa, tem uma importância peculiar. Pesquisadores e entrevistados, bem como suas competências comunicativas, constituem o principal instrumento de coleta de dados e de reconhecimento. Por este motivo, segundo o autor, os entrevistados não podem adotar papel neutro no campo em seus contatos com as pessoas a serem entrevistadas ou observadas. Em vez disso, devem assumir certos papéis e posições previamente designadas. As informações a que o pesquisador terá acesso e das quais permanecerá excluído dependem essencialmente da adoção bem sucedida de postura apropriada. Participantes, é conceituado pelo autor pelas pessoas entrevistadas ou estudadas. No caso de pesquisas em instituições o termo também se refere àquelas pessoas que devem facilitar ou autorizar o acesso.

No capítulo 11 o debate foi acerca da amostragem no processo de pesquisa. As decisões relativas a amostragem no processo de pesquisa está presente em diversas partes da pesquisa. Está associada a decisão de quais grupos estas pessoas devem ser originárias e quais entrevistas devem ser transcritas e analisadas. Durante o processo de interpretação dos dados, deve-se decidir quais as partes de um texto que devem ser selecionadas para a interpretação em geral ou para interpretações específicas detalhadas. Na fase da descoberta, a decisão fica por conta da seleção dos casos ou partes de textos revelam-se melhores para a demonstração das descobertas. Nesse sentido, é importante destacar que as decisões sobre como selecionar uma amostragem não podem ser tomadas isoladamente, mas sim conduzidas pelo problema de pesquisa, conforme visto no capítulo 9, bem como com o grau de generalização teórica a que se pretende atingir.

No capítulo 12 o autor reúne algumas recomendações sobre como planejar a pesquisa qualitativa, e lança mão das seguintes indagações: Como estabelecer a coleta e análise de dados? Como selecionar o material empírico? Quais os meios disponíveis para reunir esses dados? e outras. Ao elaborar o plano, o pesquisador precisa ter claro e definido o seu objetivo de estudo, sua estrutura teórica, a questão de pesquisa, os materiais disponíveis, os procedimentos definidos, o grau de padronização e os demais recursos disponíveis. Conforme figura a seguir:


Conforme Cresswell (1998), podemos distinguir quatro planos básicos na pesquisa qualitativa, Estudo de caso, Estudo retrospectivo, estudo longitudinal e estudo comparativo. Cada um deles possui singularidades que podem ser recombinadas entre si, a escolha do plano será guiada pelo problema de pesquisa do trabalho.






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