terça-feira, 21 de junho de 2016

Aula 10 - Desenhos ou abordagens da pesquisa qualitativa

Nessa aula discutimos sobre os desenhos metodológicos das pesquisa qualitativa, quais sejam: Teoria Fundamentada; Desenhos Etnográficos; Desenhos de Pesquisa Ação; Desenhos Narrativos e Desenhos Fenomenológicos. Para isso, utilizamos as leituras dos livros de Sampiere (2013, cap.15) e Creswell (2014, cap.4).
Com exceção dos Desenhos Fenomenológicos, Sampiere (2013) agrupa em um diagrama seus quatro principais tipos de desenhos da pesquisa qualitativa:

O debate dessa aula se inicia com o tema da Teoria Fundamentada, inicialmente conversamos sobre os aspectos históricos desse método e ficou claro que os primeiros estudos datam de 1960, com Strauss e Glauser. Como conceito, compreendi que se trata de um método que busca construir uma teoria sobre um fenômeno ainda não teorizado. Porém, essa teoria não é aquela formal, normal, natural, mas sim uma teoria de explicação de um fenômeno buscado. Ela não se pretende ser generalizável por frequência, mas sim teórica e particular. Trata-se de uma teoria substantiva.
O desenho sistemático para a Teoria Fundamentada se inicia com uma codificação aberta, onde os autores indicam a necessidade de se fazer primeiro uma codificação aberta reunindo todos os dados levantados, e através de “zig-zag” construir outras categorias. A seguir, o pesquisador realiza uma “codificação axial”, em que o pesquisador vincula os dados com uma categoria central, considerando elementos contextuais, interacionais e gere resultados ou consequências.
O segundo método foi a etnografia. Nesse momento a discussão partiu da etimologia da palavra, no qual descobri pelo site que etno significa “povo, ou nação”. Assim, fica evidente que a etnografia se preocupa com a compreensão de elementos culturais, ritos locais e símbolos de um grupo.
Surgiu a dúvida quanto à postura do pesquisador, ou seja, ele deve ser membro do grupo ou não. Independente disso, como manter sua reflexividade sem viés? Dentre os tipos de etnografias, temos o modelo realista onde o pesquisador extrai elementos do grupo um tanto positivista. Outro mais crítico, onde se busca a compreensão de questões mais sociais.
Destaco o tipo de etnografia em que o pesquisador buscar responder a sua experiência no grupo, e suas percepções. Assim, ele pode fazer uso de “autoetnografia”.

Desenhos narrativos, o elemento chave são as experiências pessoais e o aspecto cronológico da narração está sempre presente. Sempre que possível é importante utilizar documentos que validem a narração, como e-mails, cartas, ata de reuniões e outros.
Algumas recomendações podemos destacar aqui para um desenho de pesquisa narrativa: 
  1. O elemento principal são as experiências pessoais, grupais e sociais dos atores;
  2. A narração inclui uma evolução cronológica dos fatos passados, presentes e perspectivas futuras;
  3. As histórias de vidas devem ser narradas em primeira pessoa;
  4. O pesquisador alia dados documentais como livros, cartas, atas, e outros arquivos às narrativas dos entrevistados; e outros.
Assim, a pesquisa narrativa segue a sequencia (Sampiere, 2013):



A Pesquisa Ação tem reduto na postura epistemológica construtivista pois visa, além da compreensão da realidade, uma intervenção na realidade pesquisada. Aqui faço uma relação com um dos focos da pesquisa qualitativa que é a (re)construção da realidade, para isso o pesquisador pode se valer de dados textuais, visuais ou documentais. Mas ao fim da sua pesquisa, os frutos são notados apenas em publicações, é diferente disso que a pequisa ação propõe uma ação transformadora da realidade. É a pesquisa qualitativa promovendo mudanças de melhoria na sociedade.
Logo, a pesquisa ação pressupõe ações práticas que estimule o aprendizado dos participantes locais, a fim de que após a pesquisa, eles possam dar continuidade às práticas implementadas. Outro elemento chave é o viés participativista, onde os atores são estimulados a propor melhorias, colaborações integrativas, que visem o desenvolvimento e emancipação dos membros.
Um plano de ação bem simples e objetivo que se pode fazer inclui quatro etapas: Identificar o problema; elaborar o plano, implementar e avaliar o plano; e retroalimentar o plano, fazendo ajustes. Sempre seguindo recomendações de circularidade da pesquisa qualitativa, ou seja, não linear. A seguir alguns exemplos de Sampiere (2013) de problemas de pesquisa ação:

Outro desenho se chama "Fenomenológico", uma expressão já conhecida por nós desde o debate da postura epistemológica na pesquisa qualitativa. Essencialmente, esse desenho busca compreender a subjetividade do sujeito. Ou seja, busca captar o ponto de vista de cada indivíduo ou grupo social, suas intuições, experiências, ou percepções sobre um dado fenômeno.

Reflexão:  A decisão de enveredar-se pela pesquisa qualitativa exige requisitos a priori que tem a ver com a forma que o sujeito anseia compreender o fenômeno. Uma vez escolhida essa jornada, o problema a que se quer responder indicará se o desenho será narrativa, etnográfico, pesquisa ação, fenomenológico ou teoria fundamentada.
Entretanto, um apontamento feito aqui é que em sua grande maioria os pesquisadores já definem o seu problema de pesquisa a partir do seu entendimento de como acessar a realidade pesquisada. Ou seja, há uma circularidade entre o fenômeno e a postura epistemológica do pesquisador, logo, o desenho da pesquisa vem como o melhor "encaixe" entre o sujeito, o objeto que ele quer pesquisar e o problema de pesquisa almejado.

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