Para debate dessas técnicas de coleta de dados, a turma foi dividida em grupos, onde cada grupo ficou responsável pela apresentação de uma das técnicas. Nosso grupo ficou com "Análise de Discurso", mas até lá vamos apresentar o que os demais colegas falaram e as questões levantadas em cada uma das formas de coletar dados na pesquisa qualitativa. Como obra de base, usamos Flick (2009), em seus capítulos 24 e 25.
A princípio, o que me chamou atenção foi a proximidade de termos entre Análise de Conversação e Análise de Discurso. Pois meu entendimento prévio era de que a análise de discurso seria análise de falas quaisquer, independente de como era realizada. Mas logo na primeira leitura, e com o reforço da apresentação dos demais colegas, pude entender que a análise de conversação necessariamente capta a interpretação da fala entre dois respondentes, e isso difere da análise de discurso que prima pela compreensão de pronunciamentos, exclusivamente.
Assim, como a análise de conversação capta a interação social ela faz muito uso da análise de elementos linguísticos para entender as nuances contextuais de cada indivíduo. Para tanto, é fundamental a observação da ordem como os atores se falam, pois nada pode ser considerado aleatório - É fundamental a ordem sequencial da fala. Dessa forma, sugere Flick, que um ponto de partida frequentemente adotado para as análises de conversações é investigar como elas são iniciadas e quais práticas linguísticas são aplicadas para o encerramento dessas conversações de uma forma ordenada.
Na análise de discurso o foco empírico é muito mais o conteúdo da fala do que elementos linguísticos. Os procedimentos de análise de discurso se referem à interpretação do conteúdo, e por isso, o pesquisador atento deve buscar ler cuidadosamente todo o material buscando entender o contexto que há latente na fala dos respondentes. Assim, segundo Potter e Wetherell (1987) citado por Flick (2009) as questões de orientação da análise de discurso podem ser melhor visulaizadas na figura a seguir:
Portanto, é preciso o pesquisador se perguntar sobre os motivos que estão o fazendo entender o texto da forma como está, e assim, as respostas deverão lhe clarear o contexto da fala dos informantes, a variabilidade presente no texto, as construções que podem ser destacadas e relacionadas com a teoria, e assim, elencar as interpretações possíveis diante todos dados coletados. Por fim, um cuidado redobrado com a redação final, pois é através dela que os interessados na pesquisa compreenderá as conclusões do trabalho, bem como o contexto dos respondentes. É importante zelar por esse ponto, pois somente com o entendimento do contexto é que a generalização teórica será melhor entendida.
Sobre análise de gênero, Flick trata com certa brevidade, mas não com menos importância, ao afirmar se trata de uma abordagem desenvolvida a partir da análise de conversação, onde os padrões e os gêneros comunicativos são vistos como instituições de comunicações.
Assim, análise de gênero ficou entendido para mim como os padrões estruturais de comunicação que são registrados com todos os cuidados metodológicos, e em seguida interpretados hermeneuticamente, e em seguida delimitados. São exemplo desse gênero as fofocas e ironias, como no caso da charge a seguir:
Alguns elementos da Análise de Narrativas no capítulo 25 de Flick (2009) são que essa técnica necessariamente partem de uma forma específica de ordem sequencial e cronológica. O objetivo aqui é reconstruir enredos biográficos, para tanto, o pesquisador deve buscar eliminar trechos não biográficos (falas dispersas) e analisar o restante seguindo: 1. análise de dados biográficos; 2. análise do campo temático (para captar o contexto); 3. reconstrução da história de vida; 4. microanálise de segmentos individuais de texto (separação de trechos da fala através de codificação axial); 6. comparação contrastiva entre a história da vida analisada e outras histórias de vida, a fim de trazer elementos novos a partir da fala dos entrevistados.
A análise hermenêutica objetiva origina-se na análise das interações naturais e, portanto, um reduto no interacionismo simbólico. Nela a ordem sequencial também é mister, para que sejam captadas a interpretações relevantes da estrutura de significados entre o texto e contexto externo. Existem duas etapas principais, a análise preliminar sequencial, onde a preocupação é com os elementos do contexto externo; e a análise refinada, onde as interpretações vinculam a fala ou o texto com o contexto e suas interações.
FLICK, Uwe. Introdução à pesquisa qualitativa. 3ª ed. Tradução Joice Elias Costa. Porto Alegre: Artmed, 2009 [Capítulos 24 e 25]
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