terça-feira, 21 de junho de 2016

Aula 12 - Codificação, Categorização, Análise de Conteúdo

        Na aula de hoje vimos como tratar e analisar os dados coletados na pesquisa qualitativa. As discussões tiveram como base os textos de Flick (2009), Sampiere (2013) e Oliveira (2008). A relevância dessa etapa de codificação e categorização está no elemento essencial da pesquisa qualitativa: a interpretação dos resultados. Um bom tratamento dos dados facilita e direciona o pesquisador no ato da interpretação. E isso ocorre de maneira circular, ou seja, ele realiza o tratamento dos dados, faz interpretações, volta para a teoria, depois novamente para os dados e assim sucessivamente.
         Logo, os cuidados nessa etapa podem fazer grande diferença na qualidade da pesquisa qualitativa. A codificação do material tem como objetivo a categorização e/ou desenvolvimento da teoria. Nesse sentido, a codificação teórica é o procedimento para análise de dados coletados para desenvolvimento de uma teoria fundamentada, por exemplo. O processo de interpretação pode ser: a codificação aberta (expressa dados e fenômenos na forma de conceitos); a codificação axial (aprimoramento e diferenciação em categorias; e a codificação seletiva (ocorre uma integração entre os dados como forma de construir relações com nexos entre os dados e o problema de pesquisa em si). 
                Flick (2009) sugere que o pesquisador trabalhe com o texto regular e repetidamente seguindo as seguintes perguntas:

                   
            Uma vez estabelecido esse guia de perguntas para a análise dos dados, sigamos para as recomendações de análise propriamente ditas. E aqui vamos trabalhar com a "Análise de Conteúdo". A discussão em se iniciou com um alerta para a disseminação indiscriminada da análise de conteúdo no Brasil, mas que, em muitos casos, os autores não obedecem todas as etapas que a ferramenta exige. 
             Em geral, os trabalhos com análise de conteúdo replicam os mesmos conceitos, numa espécie de difusão, ou até mesmo uma repetição não reflexiva, valendo-se apenas do "sucesso" de determinados textos. Ou seja, o sujeito copia as partes mais conhecidas da análise de conteúdo porque muitas pessoas a usaram. 
              A análise de conteúdo tem como característica a utilização de categorias, normalmente obtidas a partir de modelos teóricos com objetivo principal de reduzir o material. O procedimento metodológico concreto inclui basicamente três técnicas: a síntese de análise de conteúdos é onde o material é parafraseado no sentido de sintetizá-lo em um nível maior de abstração; a análise de conteúdo busca esclarecer trechos difusos, ambíguos ou contraditórios. E por fim, a análise estruturadora de conteúdo, busca tipos ou estruturas formais no material.
                Existem dois tipos principais de análise de conteúdo, o primeiro que busca observar a frequência dos termos, essa numa dimensão mais quantitativista. Inclusive na aula pudemos conhecer alguns software que realizam essa contagem e apresentam os resultados. Aqui o objetivo é identificar quais termos mais aparecem no conteúdo das falas dos entrevistados. Como por exemplo:

                Na figura acima, podemos perceber a frequência maior das palavras Informação; Conhecimento; Receptor, e outros. Assim, as conclusões que chegamos é que no conteúdo dessa fala ou texto, a palavra "informação" tem grande destaque e por isso devemos relacionar com a teoria que estamos buscando construir ou explicar. Aqui um blog com indicações de software para construir nuvem de palavras dinâmicas: Nuvem de Palavras
              O segundo tipo de análise de conteúdo tem a ver com o significado que cada termo tem com o problema pesquisado. O sujeito centrará esforços em criar relações entre o conteúdo e a teoria analisada, ou construída. Para tanto, ele pode se valer dos mesmo critérios e etapas do modelo anterior, pré analise; tratamento dos dados e exploração do material; e inferências finais.
              Sampiere (2013) lembra que diferente da pesquisa quantitativa, quando primeiro se coleta todos os dados e em seguida irá analisá-los, na pesquisa qualitativa a coleta e análise acontecem praticamente ao mesmo tempo. Portanto, esse processo de "vai e vem" pode ser melhor visualizado como uma espécie de espiral entre teoria, coleta de dados e análise  até a saturação. A figura a seguir, de sua obra, ilustra esse movimento:

             Entre coletar os dados e propor conclusões e generalização, o pesquisa realiza um trabalho interativo e simultâneo até saturar o campo. Logo, após a coleta instrumental dos dados, o pesquisador seguirá para a organização dos mesmo, usando critérios bem definidos; depois preparar os dados para a análise, limpando ruídos e distorções; realizar uma leitura completa desses dados a fim de prosseguir para a etapa seguinte que é identificar pontos de análise de proximidade com sua teoria; realizar as devidas codificações (aberta, axial e seletiva); e por fim propor teorias e considerações que respondam seu problema de pesquisa.


BARDIN, L. Análise de conteúdo (L. de A. Rego & A. Pinheiro, Trads.). Lisboa: Edições 70, 2006. 
FLICK, Uwe. Introdução à pesquisa qualitativa. 3ª ed. Tradução Joice Elias Costa. Porto Alegre: Artmed, 2009. [Capítulos 23]
OLIVEIRA, D. C. Análise de conteúdo temático-categorial - uma proposta de sistematização. Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2008 out/dez; Voume 16, n.4, p. 569-76.
SAMPIERI, Roberto H; COLLADO, Carlos F.; LUCIO, Maria P. B. Metodologia de Pesquisa. 5ª edição. McGraw-Hill, 2013. [Extrato do Capítulo 14 - Análise de dados qualitativos]
          

Nenhum comentário:

Postar um comentário