Na aula de hoje vimos como tratar e
analisar os dados coletados na pesquisa qualitativa. As discussões tiveram como
base os textos de Flick (2009), Sampiere (2013) e Oliveira (2008). A relevância
dessa etapa de codificação e categorização está no elemento essencial da
pesquisa qualitativa: a interpretação dos resultados. Um bom tratamento dos
dados facilita e direciona o pesquisador no ato da interpretação. E isso ocorre
de maneira circular, ou seja, ele realiza o tratamento dos dados, faz
interpretações, volta para a teoria, depois novamente para os dados e assim
sucessivamente.
Logo, os
cuidados nessa etapa podem fazer grande diferença na qualidade da pesquisa
qualitativa. A codificação do material tem como objetivo a categorização e/ou
desenvolvimento da teoria. Nesse sentido, a codificação teórica é o
procedimento para análise de dados coletados para desenvolvimento de uma teoria
fundamentada, por exemplo. O processo de interpretação pode ser: a codificação aberta (expressa dados e fenômenos na forma
de conceitos); a codificação
axial (aprimoramento e
diferenciação em categorias; e a codificação
seletiva (ocorre uma
integração entre os dados como forma de construir relações com nexos entre os
dados e o problema de pesquisa em si).
Flick (2009) sugere que o pesquisador trabalhe com o texto regular e repetidamente seguindo as seguintes perguntas:
Uma vez estabelecido esse guia de perguntas para a análise dos dados, sigamos para as recomendações de análise propriamente ditas. E aqui vamos trabalhar com a "Análise de Conteúdo". A discussão em se iniciou com um alerta para a disseminação indiscriminada da análise de conteúdo no Brasil, mas que, em muitos casos, os autores não obedecem todas as etapas que a ferramenta exige.
Em geral, os trabalhos com análise de conteúdo replicam os mesmos conceitos, numa espécie de difusão, ou até mesmo uma repetição não reflexiva, valendo-se apenas do "sucesso" de determinados textos. Ou seja, o sujeito copia as partes mais conhecidas da análise de conteúdo porque muitas pessoas a usaram.
A análise de conteúdo tem como característica a utilização de
categorias, normalmente obtidas a partir de modelos teóricos com objetivo
principal de reduzir o material. O procedimento metodológico concreto inclui
basicamente três técnicas: a síntese de análise de conteúdos é onde o material
é parafraseado no sentido de sintetizá-lo em um nível maior de abstração; a análise
de conteúdo busca esclarecer trechos difusos, ambíguos ou contraditórios. E por
fim, a análise estruturadora de conteúdo, busca tipos ou estruturas formais no
material.
Existem dois tipos principais de análise de conteúdo, o primeiro que busca observar a frequência dos termos, essa numa dimensão mais quantitativista. Inclusive na aula pudemos conhecer alguns software que realizam essa contagem e apresentam os resultados. Aqui o objetivo é identificar quais termos mais aparecem no conteúdo das falas dos entrevistados. Como por exemplo:
Na figura acima, podemos perceber a frequência maior das palavras Informação; Conhecimento; Receptor, e outros. Assim, as conclusões que chegamos é que no conteúdo dessa fala ou texto, a palavra "informação" tem grande destaque e por isso devemos relacionar com a teoria que estamos buscando construir ou explicar. Aqui um blog com indicações de software para construir nuvem de palavras dinâmicas: Nuvem de Palavras
O segundo tipo de análise de conteúdo tem a ver com o significado que cada termo tem com o problema pesquisado. O sujeito centrará esforços em criar relações entre o conteúdo e a teoria analisada, ou construída. Para tanto, ele pode se valer dos mesmo critérios e etapas do modelo anterior, pré analise; tratamento dos dados e exploração do material; e inferências finais.
Sampiere (2013) lembra que diferente da pesquisa quantitativa, quando primeiro se coleta todos os dados e em seguida irá analisá-los, na pesquisa qualitativa a coleta e análise acontecem praticamente ao mesmo tempo. Portanto, esse processo de "vai e vem" pode ser melhor visualizado como uma espécie de espiral entre teoria, coleta de dados e análise até a saturação. A figura a seguir, de sua obra, ilustra esse movimento:
Entre coletar os dados e propor conclusões e generalização, o pesquisa realiza um trabalho interativo e simultâneo até saturar o campo. Logo, após a coleta instrumental dos dados, o pesquisador seguirá para a organização dos mesmo, usando critérios bem definidos; depois preparar os dados para a análise, limpando ruídos e distorções; realizar uma leitura completa desses dados a fim de prosseguir para a etapa seguinte que é identificar pontos de análise de proximidade com sua teoria; realizar as devidas codificações (aberta, axial e seletiva); e por fim propor teorias e considerações que respondam seu problema de pesquisa.
BARDIN, L. Análise de conteúdo (L. de A. Rego & A. Pinheiro, Trads.). Lisboa: Edições
70, 2006.
FLICK, Uwe. Introdução à pesquisa qualitativa. 3ª ed. Tradução Joice Elias Costa. Porto Alegre: Artmed, 2009. [Capítulos 23]
OLIVEIRA, D. C. Análise de conteúdo temático-categorial - uma proposta de sistematização. Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2008 out/dez; Voume 16, n.4, p. 569-76.
SAMPIERI, Roberto H; COLLADO, Carlos F.; LUCIO, Maria P. B. Metodologia de Pesquisa. 5ª edição. McGraw-Hill, 2013. [Extrato do Capítulo 14 - Análise de dados qualitativos]
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